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Mostrando postagens de outubro, 2011

Contra as leis

Sete horas da manhã. Estação cheia. O fluxo de pessoas vai para São Paulo, é notável, não é preciso perguntar individualmente qual seu destino, afinal, as escolas, universidades, maiores concentrações de emprego, comércio e oportunidades estão lá, no centro, na cidade que não pára. Vê-se o trem chegando, preparam-se, bolsas a frente do corpo, posição de quem vai para a luta. Primeiro desafio do dia: Entrar no trem. Em meio a empurrões, manobras com o corpo, xingamentos, desafiam as leis da física e provam que não só dois, mas sim vários corpos ocupam o mesmo lugar. A porta se fecha e um pensamento vem à mente: “ Constituição da República Federativa do Brasil de 1988” lembra-se, “Artigo 1, A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos... parágrafo 5, a dignidade da pessoa humana.” A dignidade da pessoa humana. Não conseguia encontrá-la em meio ao apert

A língua.

Silêncio e a mais pura escuridão. Tentou ao máximo calar a respiração que, ofegante, parecia alta demais ali debaixo, poderia denunciá-lo a qualquer momento. O chão poeirento debaixo da cama lhe fazia querer espirrar. Não, agora, não! Torceu o nariz e deixou os olhos, igualmente irritados, bem abertos. Prendeu a respiração por segundos para apurar os ouvidos. As últimas passadas haviam sido há mais de seis segundos. A adrenalina lhe corria as veias desenfreada, ansiosa, comendo-lhe o sangue. Por sorte, quando havia descido do colchão até ali, o edredon havia descido um pouco, cobrindo seu esconderijo - o mais seguro que pode achar em meio ao desespero dos passos pesados no piso ebúrneo . Uma brisa gelada correu pelo vão deixado entre a coberta suspensa e o chão. Seus pulmões congelaram, seus olhos arregalaram-se ainda mais, a respiração cessou por completo. O edredon começou a ser erguido. Um dedo gelado pecourreu -lhe o corpo do fim da coluna até sua nuca, fazendo-o estremecer. O ed

De ponta-cabeça.

Ele forçava suas pernas para fora. Ela apoiou-se sobre os braços na pia e envergou o pescoço, deixando a cabeça cair pra trás, encarando seu reflexo embaçado de ponta-cabeça. A pressão no meio de suas pernas fazia a parte inferior de sua virilha se esquentar surpreendentemente. Deixou a cabeça cair ainda mais e então o viu. Ela sentia o peito dele roçar sua cintura e seu abdôme. No reflexo, viu aqueles olhos manchados de vermelho e aquela boca com dentes sujos de visco rubro escalando o meio de seus seios. Ele fincou os caninos ali e fez o sangue escorrer por seu corpo desnudo. Ela não conseguia levantar a cabeça. A sensação simultaneamente gelada e quente a dominava, deixando-a mole. Apertou os próprios olhos e ficou vendo o reflexo ensanguentado e de cabeça para baixo comer-lhe. Natália Albertini.

Crazy Diamond.

Sentiu o lençol sob si, o camisetão subindo e deixando a pele da cintura em contato com o algodão do edredon . Remember when you were young ? You shone like the sun . O refrão, melodioso. Afundou o rosto no travesseiro e estralou a parte interna na coxa direita, pondo-se de bruços, numa posição que ninguém além dela acharia confortável. O resto de sol esguio e poeirento se infiltrava no quarto, arrastando-se silenciosamente pelo chão lígneo . Now there 's a look in your eyes , Like black holes in the sky . O refrão, adocicado. Respirou fundo. Deixou as pálpebras se beijarem, os cílios se abraçarem. Entrou no sono. Ps .: já pode fazer isso? x.x Natália Albertini .