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Mostrando postagens de setembro, 2011

Arriverderci.

Eu andava despreocupada pela calçada da larga avenida, sibilando a música que ouvia. Tinha os óculos de sol me protegendo os olhos da claridade infinita e os cachos me caindo em cascata sobre os ombros. Uns dez metros à frente, uma velhinha entrava em meu caminho, vindo em minha direção, vagarosa, com uma bengala, óculos grossos e cabelos adocicadamente avermelhados. - Vamos trocar? - ela me dirigiu a palavra quando passei por ela. Eu a olhei, mais baixa que eu, diminuí o volume, e fiz uma cara interrogativa. Ela prosseguiu: - Eu fico com a sua idade e você, com a minha. Abri um largo e sincero sorriso, olhando-a aos olhos e pondo os óculos no topo da cabeça. - Vamos fazer assim: nós dividimos e ficamos as duas com a mesma idade, que acha? Ela abriu um lindo sorriso de volta, feliz com a sugestão. - Quantos anos você acha que eu tenho? - ela me perguntou. Eu sabia que ela tinha mais de oitenta, mas não era isso que ela queria ouvir, então me curvei à sua expectativa: - Setenta e cinco?

Sangue ao canto dos lábios.

Três. Ela estava sentada no muro, com as pernas bem abertas, completamente à mostra nos shorts curtos e listrados, e o torso coberto, exceto pelos ombros, com uma camiseta de alguma banda de heavy metal. Seu cabelo estava revirado, abrangente e volumoso. Os lábios, molhados de cerveja, avantajavam-se num vermelho profundo, enquanto que os olhos se acinzentavam. Um de seus braços enlaçava o pescoço de um deles, cuja mão segurava firme e possessivamente sua cintura, com os dedos adentrando a peça listrada. Ele, à direita, tinha um dos joelhos dobrados, mais próximos ao corpo. O cabelo enegrecido contrastava com sua camisa branca. Seu cenho era carregado, seus olhos, avermelhados. Na mão livre, um cigarro fumegante. A fumaça saindo de sua boca. Do outro lado, com uma cerveja na mão, ela tinha o outro apoiado sobre uma de suas coxas. As pernas dos dois perpassavam-se. A mão dele aproximava-se muito da virilha dela, quase ao término dos shorts . Ele tinha os olhos injetados , arroxeado

Camisa azul.

Levantei do sofá de cores pastéis e comecei a andar pelo corredor, com os pés descalços no chão gelado e claro, devagar. Passei pelo quarto, à esquerda, com a cama de casal e a penteadeira , tão familiares. Passei pelo segundo quarto, também à esquerda, com suas duas camas de solteiro, suas colchas coloridas, a escrivaninha e seu computador e a janela aberta, deixando entrar o sol da tarde. Passei pelo banheiro, à direita, esplendorosamente grande e claro, com um espelho a me refletir a imagem desgrenhada e trêmula . Cheguei à cozinha, onde passamos tantos natais e dias comemorativos , comendo e falando alto, rindo e nos censurando, com sua mesa de madeira e seu respectivo furinho , lascado, à ponta, o qual meu polegar já está cansado de saber how it feels to touch it . A cortina levantou-se um pouquinho com a movimentação do ar, revelando a tesoura escondida no parapeito da janela, e voltou a abaixar-se. Pisei, por fim, na varanda. Naquele granito verde escuro gélido e acolhed

Rock. And. Roll.

O barulho da multidão era espalhafatoso, ouriçado . Ele pulou com um pé de cada vez e olhou para o palco, ali detrás dos panos, pronto, esperando para sua entrada triunfal. O instrumento vibrou, tão ansioso quanto o público. Chacoalhou a cabeça com os olhos apertados. Virou pra trás e viu os colegas relaxando o corpo, se alongando e respirando mais fundo, o de sempre. Voltou a olhar a iluminação do palco, sentiu na pele a ansiedade das quarenta mil pessoas ali, próximas, e fez uma das cordas da guitarra vibrar. A multidão foi ao delírio. Olhou para os companheiros, esperando a confirmação de cabeça de cada um. Todos pronto. Respirou fundo. Outra vez. Disparou para o palco, onde quase não ouvia o som da própria guitarra, mediante aos gritos de clamor daquela multidão. Rock and roll . Ps .: Whitesnake foi! *-* VEM, SYSTEM ! Natália Albertini .

Cama.

Deitei e puxei o edredon, sentindo o camisetão se levantar até minha cintura. Não me importei. Afundei os cachos no travesseiro e me virei pro lado direito, com o corpo virado pra baixo, na intenção de estalar a parte interna da coxa esquerda. Clac. Respirei fundo e ouvi atenta o silêncio do apartamento. Forcei as pálpebras, entrelacei os cílios. Quatro horas para dormir e recomeçar a semana. Minhas ancas e pernas numa dor latente. Cansaço pré-semanal. Sorri com aaaaahhh...que sono, acho que vou... Natália Albertini.