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Mostrando postagens de agosto, 2011

My tears don't dry on their own.

Eu estava ao sofá de couro, entre meus avós maternos: ela, à minha direita, ele, à minha esquerda. Eram meus únicos, os paternos haviam me deixado. Meu vô tinha a atenção voltada para a tevê e a mão direita apoiada em meu joelho esquerdo, amigavelmente . Minha mão sobre a dele. Minha vó apertava os olhinhos por detrás dos óculos e minha mão direita por dentro da esquerda dela. - Olha só o que eu tô lendo - e ela se esticou para pegar um livrinho denominado 'Feliz Aniversário!' que me parecia estranhamente familiar. - Era do seu avô. Ah... Por isso eu o reconhecia. Era do vô Germano, pai do meu pai. Aquele que fechou os olhos em agosto do ano passado. E meu Deus do céu, já faz um ano, embora a dor ainda se alargue dia após dia. - E olha só o que eu achei no meio dele. Ela soltou minha mão, o que me doeu muito, quase fechei os dedos em torno do pulso dela, para que ela jamais me soltasse, mas manti a postura e cerrei o maxilar. Passou a folhear o pequeno

Haven't Met You Yet.

A garoa caía fina na estrada. O interior do carro era aconchegante e habitado apenas pelas melodias cantaroladas de Michael Bublé . Ele dirigia com uma mão só, enquanto que com a outra, ao trocar de marchas, sutilmente acariciava a perna esquerda dela, em profunda afeição, sem precisar lhe olhar às íris. Ela tinha a cabeça encostada ao banco, virada para a direita, olhando a via bem pavimentada, os carros a serem ultrapassados por ele, sibilando a letra das músicas. A água batia de leve aos vidros. O trânsito parou. Ele diminui a marcha e freou levemente. Cada um olhava para um lado da estrada. Quem os visse de fora diria que estavam brigados, que não se falavam naquela noite chuvosa. Por dentro, contudo, a mão dele sobre a coxa dela. E a mão dela sobre a dele. Natália Albertini .

Cheshire.

A bolsa me pesava no ombro esquerdo, jogada para trás. Os pés já pediam descanso, as pernas caminhavam duras, sérias. The Corrs aos meus ouvidos. Cachos presos ao topo da cabeça. Olhos semi -cerrados de cansaço. Então uma luminosidade alta me chamou atenção. Olhei. Era ela, gibosa e prateada, sorrindo pra mim. Sorri de canto de volta para ela. Continuei meu andar sem tirar os olhos daquele brilho tão reconfortante. Esperei, em vão, o gato de Cheshire aparecer e me confundir com caminhos diferentes. Então, me confundi por mim mesma . Natália Albertini .

Cevada

Abriu a lata de cerveja: infortúnio. A maldita estourou em suas mãos, esparramando aquela espuma ansiosa pelo chão, sujando-lhe os dedos, melecando -os. Os amigos zombaram dela e ela, despreocupadamente , riu junto. Colocou a lata no banco ao lado, pedindo para que jogassem fora, e foi ao banheiro lavar as mãos agora lambuzadas. Empurrou a porta do estreito e mal iluminado metro quadrado que se tinha a pachorra de ser chamado de banheiro ali, à procura da pia. Antes que conseguisse enfiar-se dentro do pequeno local, outro corpo colou-se ao seu e a empurrou, fechando a porta atrás de si. Ela foi prensada contra a bancada da pia, seus ossos à cintura, do quadril, pressionados contra a pedra fria, seu rosto de frente para o espelho, ao lado do dele. Ele era mais alto e mais forte. Com uma das mãos lhe segurava pelos cabelos e com a outra, trancava a porta. Ela sorria, os olhos já semi-cerrados devido ao álcool. Ele tinha os dele completamente fechados, envolto na atmosf

To go away on a summer's day never seemed so clear

Sábado à tarde. Sol iluminando a área da churrasqueira . Sentada ao banco de concreto, com as pernas esticadas. No pé, chinelos; no corpo, saia leve e azul e regata branca; no rosto, óculos escuros; na cabeça, coque; nas mãos, uma cerveja. Ao redor, conversas paralelas, cordas de violão sendo acariciadas. Um vento sutil a lhe mostrar pedacinhos de pernas, atrevido, levantando-lhe a saia. Ela, com pudor, tentando abaixá-la, sem muita preocupação, contudo. Um sorriso se fixava ao canto de seus lábios, insistente. O clima quase quente daquela tarde a agradava mais que tudo. Esqueceu-se de qualquer dor que was supposed to feel . Natália Albertini .