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Mostrando postagens de junho, 2010

No title.

Tenho estado sem coragem para escrever ultimamente. Toda santa vez que começo, meu texto acaba se transformando num monstrinho son of a bitch introspectivo. E não quero escrever essas coisas. Não quero as ler. Não as quero. Portanto, não estranhem meu possível afastamento por algum tempo. Obrigada pela paciência. Divirtam-se com os antigos, se quiserem, folks. Beijos. Natália Albertini.

Avidez turquesa.

Na fila, ainda escolhendo o filme, ao lado de sua namorada, ele a viu. Lá, ao longe. Ela estava numa outra fila, ao lado duma garota menor muito parecida consigo mesma. Vestia jeans, chinelos e uma camiseta verde com os dizeres "My boyfriend is out of town". Tinha o cabelo meio desgrenhado preso numa trança e uns olhos azuis faiscantes que se viam de longe. Ela estava tão... - Amor!! - sua namorada esganiçou a voz, indicando o guichê vazio. Os pensamentos se foram. Comprou dois ingressos para a próxima sessão. Entrou na sala de cinema. Caminhava tranquilamente de mãos dadas com seu compromisso pelo corredor já escuro. Repentinamente, ela reapareceu em sua frente. Uns dez centímetros mais baixa, com toda aquela sua natureza despreocupada que a fazia tão interessante e aquele seu perfume que nenhum frasco podia conter. Teve dificuldade em segurar o forte impulso de abraçá-la pela cintura. Ademais, os ávidos olhos azuis que nem por um segundo tocaram seu corpo o ajudaram a conte

Maratona.

Mais rápida que uma maratonista, eu me vestia. Enquanto deambulava pelo quarto, pondo e tirando peças de roupa, jogava o que encontrava de útil pelo caminho dentro de minha bolsa. Saltitei ao espelho com o tubo de rímel na mão e agilmente destaquei meus cílios. Com uma última olhada ao meu reflexo, pouco me importando com os cachos ainda úmidos e com uma das alças da blusa escorregando pelo ombro, apressei-me em jogar meu chaveiro de caveira dentro dum compartimento menor de minha bolsa. Foi quando meus olhos se depararam com um objeto surpresa. Fui obrigada a sair daquele frenesi de pressa em que me meto todos os dias e parar por um instante. Ofegantes, meus dedos foram de encontro àquela pequena peça metálica, trazend-a mais perto de meus olhos. Uma tampinha de Heineken escondida em minha bolsa. Fui arremessada de volta ao dia da caça à Heineken. Meus caninos, arremessados novamente contra sua carne. Sorri de canto, divertida. Ps.: já ganhei, beijos. Natália Albertini.

Longuíssimos!

Sua boca, cercada pela barba por fazer, articulava-se em palavras cheias de sotaque húngaro. Eu, entretanto, não me prendia a isso, mas sim a uma outra parte de seu rosto em particular. Três palavras dentro de mim cresciam exponencialmente. Eu podia senti-las na ponta de meus deds e em minhas orelhas. Podia ouvi-las dilacerando-se em minha nuca, em meus pulsos, em meus tornozelos. Não iria interromper a estória tão interessante que ele relatava, mas ao mesmo tempo eu precisava. Eu tinha de dizer! Eu tinha de fazer talvez a constatação mais pura e natural de toda a minha vida, eu tinha, eu tinha! Ai, meu Deus, não conseguia mais segurá-las! As pestinhas me rasgaram a garganta, pisotearam-me a língua e morsdiscaram meus lábios. Me derrotaram, derramando meu sangue. Constatei, vencida: - Que cílios longos! Ps.: e ele me disse pra escrever isso, pois então cá estou a entregar essa minha constatação ao universo. Natália Albertini.

Metalinguagem.

A calcinha branca era coberta somente por uma camiseta azul-marinho antiga, comprida e de gola rasgada, que lhe expunha um dos ombros. O cabelo ia no alto da cabeça, desajeitado. As pernas revelavam uma bailarina. O corpo dobrava-se felinamente, de forma elegante e confortável para que ela enxergasse a tela do laptop. As pequenas partículas de memória lhe beliscavam o nariz. A persiana só deixava entrar metade do raso astro-rei naquele quarto tão pequeno e tão grande. A respiração era tranquila. Os olhos, turquesa. E os dedos escreviam todo o ambiente como uma cena cinematográfica... Natália Albertini.

Quem diria... Você por aqui!

Num dia desses um colega de trabalho me chamou de "Scary Eyes". Sorri à metade e perguntei o motivo da alcunha. Rindo-se, explicou a mim e à outra moça que todas as vezes em que eu o olhava, ele sentia meus olhos o transpassarem. Nós duas fizemos uma expressão que declarava a loucura do rapaz, mas ainda assim ele continuou. Me chamou ainda de "mind reader" e acrescentou que procurava esconder bem seus pensamentos quando perto de mim. Eles dois deixaram a sala rindo. Eu permaneci ali, parada, com uma das mãos na mesa, os olhos fixos na parede e um sorriso interno. Achei graça e, ao mesmo tempo, me percebi. Achei-me, finalmente, em meio a todos esses dias em que me perco com grande facilidade. Achei-me. Ainda sou a mesma menina que sente os mesmos sentimentos e expele as mesmas lágrimas ao ouvir a mesma Elephant Gun de sempre. Achei-me. Me dei por conta que preciso me conter. As pessoas estão começando a perceber minha percepção aguçada, e isso talvez me seja uma desv

Vibrações

Encaixou as pernas no quadril dele e sentou-se por cima, fazendo a saia levantar um pouco. Ele a beijava com volúpia, passava-lhe as mãos, atiçadas e curiosas com o corpo escultural dela, falava alguns palavrões baixinhos. Ela sorria. A iluminação da boate era baseada em vermelho e verde. A música era ensurdecedora e vibrante. No dia seguinte, o corpo foi encontrado jogado no sofá, sobre as almofadas. O sangue já secara. Era possível perceber os arranhões e as mordidas espalhadas, de onde jorrara o visco. Os olhos do rapaz estavam vidrados, mortificados. Dimitra andava pelas ruas escorada nas paredes. Sob suas unhas, pedaços de pele. Em sua língua, todo o som do alimento da noite anterior. Natália Albertini.