Postagens

Mostrando postagens de fevereiro, 2011

Uivos.

Ela fica ali, jogada àquele gramado minimamente verde. Tem nos ouvidos pequenas coisinhas brancas que parecem emitir algum som. E pensar que antes ela só gostava da minha voz... Ela se joga ali, com um trecho da cintura de fora, achando que pode me provocar sem ter o troco, ora essa! Dedilho, então, sua franja, bagunçando -a. Ela, sem nem sequer destrancar os cílios, arruma os cabelos alaranjados de volta e retorna à inércia. Irritado, balanço o topo das solitárias árvores que a cerca, fazendo uma ou outra folha cair aqui e ali. Ela nada, deixa os lábios ali, meio-abertos, me tentando a tocá-los. O faço, secando-os, mas ela passa a língua por eles, umedecendo -os novamente. Passo meus braços, suaves, por seus quadris , arrepiando-a. Ela, que ontem atirou desesperos e desaforos a mim, como um tapa em meu rosto, sorri de canto e, sem muitos movimentos, faz com que o som daqueles pontinhos brancos aumentem. Não! Você deve ouvir A MIM! SOMENTE A MIM! Ora, que penso eu? Me acalmo, a deixo

Verde, Vermelho, Preto.

Verde. Vermelho. Preto. Verde. Vermelho. Preto. A sequência das luzes coloridas se repetia, se alternava e se misturava freneticamente, às batidas da música ensurdecedora que fazia o chão da casa vibrar. A moça tinha as voluptuosas pernas de fora, numa saia curta, e as costas à mostra, numa blusa propositadamente rasgada. Balançava o corpo, dando ombradas brutas e cabeçadas violentas nas ondas de som, atingindo-as com força ao mesmo tempo em que as usava para embalar os membros de maneira graciosa. Os olhos iam fechados, orgulhosos demais para encarar qualquer um. Os cabelos iam soltos e bagunçados, sendo revirados a cada movimento de cabeça. As mãos, aneladas. De longe, ele, com os olhos, lhe ateava fogo, a via queimar sem piedade, em chamas altas. Tomava os últimos goles da vodka pura e sentia a garganta arder em fogo, bem como ela ardia. Passou a mão pelos negros e espessos cabelos e tomou passadas largas, decididas, imponentes. Ela sentiu uma presença intimidadora se aproximando e

Melodia.

Esticou a canga sobre a esteira, naqueles incontáveis e minúsculos grãos de areia. Tinhas mexas do cabelo trançadas e enxarcadas , bem como a roupa de banho e o resto do corpo. A água salgada ainda fresca escorria-lhe nuca abaixo, pelos ombros e braços, pelas ancas e pelos quadris . Pôs-se de joelhos sobre as cores que acabara de esticar sob o Sol e então deitou-se com as costas para cima, apoiando a cabeça nos braços cruzados. A inspiração calma e a expiração sossegada faziam os ombros subirem e descerem delicadamente. Os raios amarelamente lânguidos lambia suas costas de forma esponjosa . A sombra do prédio atrás da orla começava a se espreguiçar à areia. Abriu os olhos devagar, com os cílios empoeirados. Passou a língua pelos lábios e, com o cenho franzido, girou a cabeça para saber onde estava. O sol havia dado espaço à imagem projetada do prédio, em cinza claro, ao bege. Envergou o corpo para trás e avistou sua irmã, sentada numa cadeira, com os pés enfiados nos minúsculos e i

Tigres.

Com um coque bagunçado ao topo da cabeça e a testa limpa, entrou no elevador. Tinha o corpo confortável e leve vestido num vestido ralo, roxo, liso. Os pés a chinelos. Deu bom-dia à grávida e ao homenzinho uniformizado de mochila às costas, prestes a ganhar um irmaozinho . Nem se deu ao trabalho de olhar seu reflexo. Só checou os bolsos: um tinha a chave, o outro, o celular. Enquanto se perdia em sua reflexão bolsínea , a mulher grávida de cabelos dourados e óculos de sol grandes disse, encarando o abdominal da moça: - Ai, queria ser mocinha assim outra vez... Queria poder usar uns vestidos fresquinhos assim! O coque quase se desfez. Os olhos de cílios ainda não pintados ergueram-se às lentes do rosto em frente, interrogativos . O suspiro da mulher foi perceptivelmente nostálgico, longe da inveja. A moça, dissimulada, soltou um leve muxoxo em forma de risada, com os lábios retorcidos à esquerda. Quando a mãe e o filho saíram do elevador, se despediram. Sozinha, silenciosa, encarou