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Mostrando postagens de abril, 2016

Nair.

Ela dirigia uma Spin. O banco bem puxado pra frente, pra alcançar pedais e volante. Tinha um celular Android e o aplicativo da 99Taxi. Chamava voucher de "vaut" e tinha um anel no dedo anelar da mão direita - não sei dizer se era uma aliança, nunca fui boa em diferenciar isso. Sua pele era escura e suas mãos, pequenas. Seu cabelo ia curto, até um pouco rente à cabeça, e seus olhos eram jabuticabas, mas daquelas que ainda não adoçaram. Não confiava no GPS, mas tinha São Paulo na palma da mão. Não puxou muita conversa, mas também não ficou muito calada. Nos levou daqui até ali, reconhecendo cada rua, até mesmo aquela tal Relíquia. Queria saber onde mora Nair. Queria saber se tem filhos, se gosta de tomar café ou que cor acha que vai bem com sua pele. Gosto de imaginar, contudo, que chega sempre em casa tarde da noite, porque dirige um táxi de madrugada, que seus dois filhos, Bruno e Débora, deixam sua janta pronta no micro-ondas, e que a foto do pai deles

Nenhum.

Tenho em frente a mim uma luminária antiga, uma Barbie Ariel ainda na caixa, um cofrinho do Pluto que uso desde minha quinta série e uma ovelha que comprei na viagem a Gramado. Ah, e, claro, meu celular emitindo músicas de uma playlist do Spotify que escolhi (meio melancólica, devo admitir). Tenho pensado em por que me leva tanto tempo pra voltar aqui pra escrever. Acho que tem algo a ver com o fato de que toda vez que abro esse blog, me sinto nauseada. Sinto como se precisava chorar, vomitar, continuar lendo até chegar no osso, sem parar de chorar e me mutilar. Parece que entro de cabeça num mar gelado e denso, com as mesmas palavras de sempre, com os mesmos sentimentos e mesmos ângulos. Aliás, acaba de me passar pela cabeça que talvez eu devesse guardar esse aqui numa caixinha e inaugurar um blog novo. But that's not how life goes, right... Would that be cheating? I have no fucking clue... Eu perdi a prática de escrever. Quer dizer, nem sei se algum dia prestei pra is