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Mostrando postagens com o rótulo Coisas de Natá.

Ecos

Quando eu o vi, eu não sabia. Eu não sabia. Não tinha como saber - eu nem o conhecia. Também se conhecesse, não sei dizer se o haveria reconhecido. A escuridão era rasgada por raios roxos, verdes e vermelhos intermitentes, acompanhando sons profundos e graves que vinham do palco. A música que vinha de lá não era muito inteligível, mas o modo como Alma mesclava a guitarra e vocais aéreos com ecos e algum teclado tornava tudo um pouco onírico. As cordas da guitarra rebombavam nas caixas de som e faziam meu peito afundar. Foi ali, recostada a uma parede bem ao fundo, que o vi. Ele era baixo. Tinha a cabeça recém-raspada, orelhas meio protuberantes e ombros tensos. Eu não sabia o que lhe passava pela cabeça. Ele pediu uma cerveja e se encostou no bar, um pouco à minha frente. Pude ver que ele tinha uma barba rala e bem loira, mal se distinguindo de sua pele tão branca. Tinha um nariz meio comprido e dedos curtos, se agarrando ao copo de pint. Eu sinceramente não sabia que ele se sentia daq...

Clareia

Leve abrir dos olhos. Gosto de cerveja ainda na boca. Inspira. Expira. O dia já vai claro, mas a noite de ontem ainda parece próxima. Rasa tontura Ele respira também, profundo. Seu peito sobe, e desce, junto com minha cabeça. Abro mais um pouquinho os olhos. Meu nariz encosta seu queixo. Inspiro mais uma vez. Beijo seu ombro, me aninho melhor, beijo seu pescoço. Não há melhor manhã que essa.

Tristeza.

Tita ia à padaria do seu Mateu todo domingo pela manhã. Neste, não foi diferente. Exceto pelo que houve lá dentro. Ela já tinha passado dos 80 anos, mas ainda andava e ouvia bem. Seu único problema era que seu maior defeito, o de nunca querer falar sobre seus sentimentos, havia se tornado de fato uma doença: não conseguia mais falar. Pediu os pães e também um doce que comeria depois do almoço e aguardou, perto da janela. Um rapazinho entrou correndo e foi logo pedindo ao seu Mateu o que queria. Ele era esguio e tinha os cabelos bem lisos, castanhos. Quando foi perguntado sobre que sabor de pão recheado ele queria, ficou na dúvida. Se voltou pra trás e gritou: - Dona Carolina, que sabor mais te apetece? Tita buscou, ávida, pela mulher que deveria responder. Esse nome sempre a deixava sobressaltada. Seus olhos a encontraram, apoiada numa cadeira, olhando algumas revistas. Ela não havia ouvido o rapaz. Como sempre, não ouvia. Ele se aproximou dela e repetiu a perg...

Nenhum.

Tenho em frente a mim uma luminária antiga, uma Barbie Ariel ainda na caixa, um cofrinho do Pluto que uso desde minha quinta série e uma ovelha que comprei na viagem a Gramado. Ah, e, claro, meu celular emitindo músicas de uma playlist do Spotify que escolhi (meio melancólica, devo admitir). Tenho pensado em por que me leva tanto tempo pra voltar aqui pra escrever. Acho que tem algo a ver com o fato de que toda vez que abro esse blog, me sinto nauseada. Sinto como se precisava chorar, vomitar, continuar lendo até chegar no osso, sem parar de chorar e me mutilar. Parece que entro de cabeça num mar gelado e denso, com as mesmas palavras de sempre, com os mesmos sentimentos e mesmos ângulos. Aliás, acaba de me passar pela cabeça que talvez eu devesse guardar esse aqui numa caixinha e inaugurar um blog novo. But that's not how life goes, right... Would that be cheating? I have no fucking clue... Eu perdi a prática de escrever. Quer dizer, nem sei se algum dia prestei pra is...

6.

6 meses. Exatos 6 meses desde minha última postagem por aqui. Exatamente hoje, 6 meses. Metade de um ano que passei sem escrever um pio. Me ocupando com outras atividades, fingindo ser eu mesma em outras coisas, quando tudo que realmente me é bom é a pena tecla. Trago-me de volta aqui, na esperança de mais um suspiro de literatura para meus dias. Quem sabe... É, quem sabe eu volte a me virar do avesso por aqui. E espero que não leve mais 6 meses.

Pequenino.

Ele foi chegando de mansinho, com uma corrida que quase não passava de uma caminhada, com os bracinhos dobrados à altura do tórax. Era pequeno, mal devia me alcançar a cintura. Tinha o cabelo raspado rente à cabeça. A pele beirava o tom daqueles chocolates bem doces. E os olhos... Os olhos eram do tamanho de duas ameixas, escuros iguais, mas reluzentes como as estrelas que começavam a dividir o céu com o Sol que já se ia. O menino corria à frente dos pais, que andavam com mais calma, conversando sobre algum assunto leve. Eu, assim como eles, caminhava, mas com a mochila nas costas e talvez uma cara não tão aberta, porque o pequeno me olhava meio desconfiado. Me olhava com aquele jeito de criança que espera ser repreendido pelo adulto mais próximos. O miúdo jogging dele quase não alcançava minhas passadas normais. Ele me olhava de baixo pra cima, desconfiado. Eu o olhava de cima pra baixo, sisuda. Os olhos dele brilharam. Os meus reluziram de volta. Abri um sorriso. Ele se es...

T

Como um travesseiro depois da soneca, ela era macia. Era macia e doce. E pequena. Seu corpo, com ossos de passarinho, se encaixava perfeitamente no meu abraço. Tinha os pulsos finos e as mãos pequenas. Uma delicadeza de bailarina. Mas não era nem de longe fraca, como se podia ver pelos cabelos grossos, curtos e resistentes. Resistiam. A franja, teimosa, às vezes lhe cobriam os olhos que podiam parecer doces demais, mas quando os deixava à mostra... Ah, que deleite! Eram verdes, compreensivos, determinados e por vezes até melancólico. Eles falavam baixo, mas falavam firme. Com poucas consoantes, todavia. Ela era fluida, sem movimentos bruscos ou que interrompessem seu caminho natural. Talvez por isso fosse tão boa dançarina. E também atriz. E também mulher. E menina. Me era inevitável chamá-la de "pequena". Porque a mim, me parecia tão minha. Apesar de ver nela contida sua total liberdade. Todavia... É, era um pouco minha. E eu, talvez soubesse, bastante dela. De ...

R.

Ela era morena. E comprida. Tão comprida quanto eu, mas se dobrava com muito mais facilidade. Sentava ali do meu lado, assistindo a aquele filme comigo, como se fosse uma pessoa qualquer. Como se não tivesse saído da minha própria imaginação. Tinha os cabelos lisos num coque, e os olhos ansiosos detrás de um par de óculos. Os braços e as pernas eram longos, muito longos. Claro, eu os desenhei assim para que pudessem me resgatar mesmo do mais profundo poço. Tinha um sorriso largo e rasgado, que não tardava em aparecer para me confortar. Eu ficava esperando minha irmã - esta, sim, real - a meu lado esquerdo, a qualquer momento me pedir para parar de fantasiar e inventar amigos imaginários, e parar de falar com eles. Mas aquilo seria tão difícil... Porque aquela que eu havia criado parecia tão real. Ela andava, falava e me compreendia como ninguém. Bom, talvez pelo fato de que compartilhássemos da mesma mente, mas isso já não vem ao caso. Meu coração, contudo, era só dela. Natá...

Ninho.

Água. Tinha água batendo no vidro da janela sem cortinas. Demorei a perceber que o barulho era real. Franzi o cenho e me espreguicei, custando a deixar pra trás o sonho cinzento que me envolvia. Estiquei o pescoço e olhei para os vidros agora camuflados de gotas d'água. A chuva caía grossa, tão silenciosa quanto podia ser numa manhã de domingo. O céu era cinza, tão nublado quanto a atmosfera onírica que teimava em não me largar. Quase hora de ir embora , pensei, mas logo me encolhi de novo. A cama que me acolhia era velha conhecida minha. E aqueles braços também. Aquele peito largo, destemido e quente que agora me servia de travesseiro respirava com tranquilidade. Subia e descia emanando uma paz amarelo claro. Ronronava também. Ali, escondida naquele ninho macio que eu ousava, por vezes, clamar só meu, o barulho da chuva parecia oco. Eu já não ouvia tão bem as gotas se atirando contra as janelas e escorrendo dramaticamente. Ali eu só ouvia o ar entrando e saindo, e uma bat...

Cafajeste.

Ele se movimentava pela casa naturalmente, enquanto eu ficava ali parada, olhando para aquela vermelhidão por segundos que pareceram eternos. Não podia não sorrir diante daquilo, era inevitável. Vi dois pedaços de fita finos e vermelhos pendurados em algo que saía da parede, não importa. Só me importava olhar aqueles cordoezinhos feitos de bibelô. Uma massa disforme, mas pesada e intransigente me subiu pelo estômago e garganta. Uma massa colorida, de densa felicidade e de uma afeição azul bebê. Respirei fundo e me esforcei para empurrá-la pra baixo, mas ela insistia. Me fazia abrir ainda mais o sorriso. Ainda meio sem chão, só consegui emitir algumas palavras: - Você guardou as fitinhas... Aquelas que um dia selaram minhas tranças. Displicente, não prestei muita atenção à resposta dele, mas acho que ele disse que sim, as havia guardado. Ele agora prostrava-se próximo a mim, e o cheiro dele me enchia o peito. Baixei os olhos e inspirei profundamente mais uma vez. Não consegui...

Marshmallow

O dia era bastante frio pra uma manhã de maio. Uma chuva fina e insistente batia nos vidros do carro, como se um domingo já não fosse tedioso por si só. Todavia, aquela domingo não ia tão monótono assim... Ele dirigia e defendia suas opiniões com afinco dentro daquele casaco grande de náilon. Seu tom de voz era amadeirado, melodioso aos ouvidos dela, que prestava bastante atenção no que ele dizia. Prestava mais atenção, com tudo, no jeito como ele falava. E em como ele ficava bem de barba. Não conseguiu se conter e, por algumas vezes, arrumou um ou outro fio que destoava. Debaixo do queixo dele, ou mais perto da orelha, quase à altura dos óculos, onde aquela barba densa se juntava com o cabelo que ele agora tanto aprovava. Barba e cabelo, ambos do mesmo tom, mas os olhos... Ah, os olhos, não... Estes tinham uma cor ainda mais doce, quase caramelo. E ela realmente gostava de como esse caramelo escorria por sua pele quando ele a encarava. Ela sorria bastante e concordava com quase...

Madeira.

Ele parou, de joelhos, por cima dela, com o tronco erguido. O pescoço e os ombros eram como rocha esculpida. Amadeirados. O peito largo e questionador arfava. Seu rosto ia limpo, com sentimentos distintos e indefiníveis à mostra. Naqueles míseros segundos, o quarto silenciou. A penumbra encobria os móveis, mas havia certa luz argêntea. As paredes tinham a tinta cinzenta descascada, a cama, os lençóis revirados, e o chão, as roupas. Ele inspirou profundamente outra vez, olhando aquela criatura debaixo de si, com os cabelos estendidos e a pele em chamas. Os olhos vermelhos dela não se desgrudavam dele em nenhum momento. Dos seus cílios, do seu maxilar e dos seus braços. Os sete segundos passados foram o suficiente para ele registrar aquela cena quase notívaga. E então, ele avançou. Enquanto ele lhe rasgava o pescoço e o baixo ventre, fazendo jorrar o visco rubro, num completo frenesi, afogando-a com aquele cheiro sobrehumano e hipnótico, a cabeça dela pendia solta para ...

Untitled.

Eis que aos 21 anos de idade, me sinto nostálgica as fuck. Revirei meu blog nessa última hr e achei tanto texto, tanto sentimento, tanta gente, tanto eu que deixei pra trás... E pelo simples fato de crescer, de mudar de fase, de o tempo ser inconstante. Escrever esses dois primeiros parágrafos já são o suficiente para me causar náuseas, dores agudas no peito e uma incrível bola de lágrimas na garganta. Acho que por isso agora minha ausência desse blog é sempre tão mais espaçada. Acho que me tornei menos humana, e mil vezes mais covarde. Sinto muita falta de escrever, mas escrever como escrevo implica em vomitar meus sentimentos em palavras, e isso sempre vem com uma dor incrível, é um peso quase que insustentável, e talvez por isso eu o tenha evitado tanto. Meu Deus, eu já deixei tanta gente pra trás... Isso me dói. Uns de propósito, mas a maioria, não. Sou grata por sempre ter escrito pelo que estava passando, porque, hoje, quando releio meus textos, do ano passado ou de 2008,...

Let There Be Rock!

Eu tinha dezesseis anos, muito AC/DC na cabeça e pouco dinheiro no bolso, mas os caras iam vir pra cá. A porra da minha banda favorita ia se apresentar aqui em São Paulo, no Morumbi, eu TINHA que ir. Na época eu dava umas aulas de inglês, juntei alguns pagamentos consecutivos e esperei abrirem as vendas. O dia que fizeram isso foi uma sexta-feira, eu estava no colégio e ia pro ponto de venda depois da aula, mas quando eram mais ou menos umas dez da manhã, alguém (não me lembro muito bem, isso já tem quatro anos) me avisou que a fila já era imensa, e corríamos o risco de não conseguir. De alguma forma, eu convenci minha mãe a me tirar da escola naquele momento, sabendo que ia perder as demais aulas (sempre fui "nerd" nesse sentido, não cabulava aula, nem nada), e me levar pra lá. Fiquei na fila com um amigo meu por algumas horas, até que chegamos no balcão de venda e compramos. Meu ingresso dourado. Compramos o ingresso pra ver o AC/DC tocar. A espera daquele dia até o...

Um Outro N.

Ela estava a meu lado direito, com um copo de cerveja em mãos, num gesto espelhado ao meu. Conversávamos sobre alguma amenidade passada em mais um dia de escritório. Ela tinha o cabelo repicado, e os olhos densos, cheios de experiência, apesar da pouca idade. Tinha também um ar meio sarcástico, que me fazia lembrar alguém... O ambiente era barulhento, porém mais claro que de costume. Como sempre ela tinha alguma peripécia pra me contar, situações que chamávamos de "Natalhisses". Experiências que só nós duas poderíamos entender, afinal, o nome só nos pertencia. E, mais do que isso, éramos a perfeita personificação do tal. Ela me fazia rir muito. Nos conhecemos há pouco mais de um ano, mas a sintonia agora era tamanha que... Me espantava. Não éramos melhores amigas, porque a definição disso que normalmente nos vem à cabeça é alguém que te conhece há muitos anos e com quem você já partilhou muita bagagem. Esse não era o caso ali. É só que... Entre aqueles copos de ce...

Mordedor.

Ele tinha os cabelos escuros e pesados, um travesseiro para meus dedos. Os olhos, embora ele não gostasse, docemente esverdeados e fixos na animação que passava na TV. Algo sobre animais de zoológico querendo fugir com o circo. Ele havia se aninhado em meu colo e sua cabeça repousava ali. Seu peito subia e descia numa respiração ritmada e tranquila. Eu o olhava com enorme afeição. Um sentimento que tendia a me transbordar pelos olhos e me apertar a garganta. Ele virou o rosto e aqueles olhos que me afogavam como um rio faminto me encararam, curiosos como os de um menino. - Que foi? - é claro que ele estranhou meu encantamento, eu devia ter ficado quase dez minutos encarando sua beleza. - Ah, nada - respondi. Ele levantou a mão direita e me apertou o nariz, num gesto de carinho. Voltou a atenção à TV. Eu sorri e engoli minhas lágrimas de carinho. A única pessoa do mundo que expressa amor por meio de lágrimas, e ele escolheu bem a mim. Meu coração se retorce de felicidade ao ...

Cabana.

O sol matinal se espreguiçava pelo chão do cômodo. O sofá-cama jazia quieto, sob o ventilador que rodava lânguido. Ele dormia calmo, uma coberta fina sobre o corpo, e um semblante de quem sonhava longe dali. E em paz. Já batiam quase nove horas. Me aproximei e sussurrei bem baixinho que acordasse, a manhã já batia à janela. Meus cachos se estenderam por cima de sua cabeça, imergindo-nos naquele local secreto que só nós dois poderíamos ver. Beijei a pintinha em sua pálpebra direita, ainda fechada e sonolenta. Ele se alongou devagar e demorou a abrir os olhos, mas quando os abriu, fixou-os logo em mim. Eu não podia fazer menos que abrir um sorriso que pudesse abraçá-lo por inteiro. Ele, ainda meio sonhando, me agarrou a mão esquerda e a pôs debaixo de seu travesseiro, como para que não fugisse. Em pensamento, disse que não. Não vou fugir. Da sua, Natália Albertini.

Laranja.

O barulho lânguido da água se acalmando e a luminosidade escassa me envolviam. Acima da superfície, somente meus olhos. Abaixo, o corpo inteiro imerso naquela massa morna e líquida. Ao longe, o som dos animais notívagos se escondendo em arbustos. Observei o topo do manto de água balançar devagar. Afundei e olhei à direita. Um enorme e majestoso crocodilo me encarava, preguiçoso. Seus olhos brilhavam arroxeados, e a cauda jazia estática. À minha esquerda, mais deles se aproximavam, nadando rápido, assustados. A massa de água me empurrou inevitavelmente para mais perto de onde o primeiro deles deitava. Ao tentar me esquivar, percebi que ele já havia fugido também. Com toda a rapidez que se pode ter no ambiente submerso, voltei à esquerda. Das profundezas daquele canto, a água se deslocava ainda mais rápido e mais forte, me empurrando, e dois pontinhos alaranjados, mais brilhantes que o dos crocodilos, se aproximavam numa velocidade nauseante. Tomei impulso nos azulejos atrás d...

Meu.

O barulho no apartamento era alto demais, o anfitrião talvez até recebesse uma multa por isso. O ambiente, contudo, era delicioso. Vozes animadas, clipes na TV e muita comida e bebida à mesa. Já passavam das três da manhã, e seu organismo que ainda se comportava como o de uma criança clamava por uma cama. Tinha, entretanto, o melhor travesseiro sob sua cabeça de olhos já fechados: o ombro direito dele. O ouvido direito dela captava todo o som da festa, animada demais para aquela hora da madrugada na opinião dos vizinhos. O esquerdo ouvia com carinho as batidas do coração dele sob a polo preta. De cada lado da cabeça, um extremo: bagunça e tranquilidade. O corpo que se fazia de cama para ela se mexia um pouco, suas cordas vocais vibravam com um tom divertido. Ao mesmo tempo, o braço direito dele a envolvia, acariciando suas costelas e espáduas. O mais puro afeto a inundou. Ela o abraçou mais forte. Sentia que... Não. Ela sabia que, se quisesse, poderia dormir naquele omb...

Algo bom. E alto.

- Quero ouvir algo bom. E alto. Ele parou no farol e selecionou a banda preferida deles. Aumentou o volume até os vidros do carro tremerem, até suas veias pulsarem com mais força, até ver as feições satisfeitas dela, traduzidas num sorriso que ele adorava. Os acordes pesados, rock do melhor, vibravam incontroláveis. Eles urravam as letras. As cabeças chacoalhando, o carro perfurando a noite com aquele volume estrondoso de guitarras. Os faróis dianteiros iluminavam a avenida encoberta pelo escuro. Algumas almas nas esquinas, encarando a fonte do barulho alto demais. Um estranho na noite. Lá dentro, eles continuvam cantando as letras rápidas e trabalhadas demais. Ele tinha a mão na perna esquerda dela. Ela, o coração na boca. Natália Albertini.