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Mostrando postagens de fevereiro, 2010

Trezentos e sessenta graus

Há algum tempo eu não sentia essa reviravolta assim tão presente. Há algum tempo eu não fincava minhas unhas em minhas coxas assim tão forte. Há algum tempo eu não esmagava meu maxilar assim tão intensamente. Há algum tempo eu não colocava os pés no chão. Não sei se é esse clima, essa chuva, esse friozinho, ou se é algo completamente interno, mas hoje o dia foi especialmente...estranho. Não diria que difícil...mas algo nesta linha. Minha manhã foi uma espécie de torpor. Fiz alguns recortes, falei algumas besteiras, comi uns pedaços de pizza amanhecida e só. Depois do almoço, fui à casa do vô (sim, sem formalidades gramaticais, porque aquele lugar não é "a casa de meu avô", mas simplesmente "a casa do vô"). Ainda em Santo André, na Av. Prestes Maia, essa maré chegou em minhas areias. E está relutando a se retrair até agora... Aquela casa hoje exalou um ar diferente, quase pesaroso, tenso. Acho que ela também sente a falta de minha avó, do balanço na varanda, do quint

Persianas brancas.

Estava sentada no chão, de pernas cruzadas, no centro do aposento. Olhava para o próprio corpo, deitado na cama, com um semblante agoniado. Apostava que acordaria dali a alguns instantes. Olhou em volta e se percebeu rodeada de palavras, sentimentos, cores e rostos flutuantes: os pensamentos de seu corpo externados, em suspensão. Olhou para o corpo novamente, a expressão facial havia mudado. Passou repentinamente a certa calma. Trazendo os olhos de volta ao chão do quarto, deu-se por conta que, à sua frente, havia uma caixa vermelha. A caixa. Levou as mãos à tampa e abriu aquele compartimento. Borboletas de todas as cores e tamanhos saíram voando, enchendo o ambiente, empurrando os pensamentos suspensos no ar. O quarto ficou completamente colorido. E poderia até mesmo levantar vôo, tantas as asas batendo. Uma paleta de cores em movimento, voando, se movendo, iluminada pela sutil claridade solar que atravessava a persiana branca que batia de leve na janela. As borboletas, cada uma repre

Feminilidade.

Corpos mutilados sob seus pés. Pisa nos ferimentos, passa os dedos nos cortes ainda abertos. Um deles ainda respira, geme, torturado. Abaixa-se, aproximando seu rosto do dele. Sente o cheiro de seu sangue correndo cada vez mais lento. Homens. Homens a seus pés. Arreganha os dentes já rubro-negros e o ataca, sem grandes amenidades. Ps.: ...cuma? Ps2.: já foram quatro, quer ser o próximo?! ¬¬' Natália Albertini.

De quatro (?).

E naquela noite incomum de quarta-feira, eles sentaram na mesma mesa, tomaram uns chopps e jogaram conversa fora. Falaram besteiras, lembraram do passado e planejaram o futuro. Estranho. Os planos eram individuais. Não incluíam um ao outro nos próprios objetivos. Os quatro trocavam palavras com a maior facilidade do mundo, olhares descarados, indiscretos e nostálgicos. Uma festa foi razoavelmente combinada para a semana seguinte. À medida que a conversa melhorava, a quantidade de chopp aumentava. Passaram algum tempo ali, juntos, amedrontados e simultaneamente empolgados com a nova fase. E naquela noite incomum de quarta-feira, sentada na mesma mesa que eles, ela percebeu que um não falava do outro incluso nas próprias metas porque eles eram um capítulo paralelo. Era óbvio que continuariam semi-juntos por um bom tempo. Eles continuariam sendo(-se)(?) a válvula de escape. Ps.: aaaah, minhas...válvulas (?). Natália Albertini.

Tatuagem dela.

Vinte para as quatro. Duas horas e vinte antes de ir embora. Era sábado, dia de maior movimento na livraria. Ele próprio já havia atendido uns bons dezessete clientes, interessados nos mais diversos gêneros literários. Sua cabeça doía, já não aguentava mais olhar para a tela daquele computador. Numa de suas checadas na estante de literatura estrangeira, sua predileta, viu uma figura que lhe prendeu a atenção. Era uma garota de quase vinte anos, que passava os dedos nos livros, lendo e absorvendo os títulos com as próprias falanges. Ela tinha o cabelo graciosamente desarrumado, num tom de castanho claro. Tinha traços marcantes, a exemplo de um maxilar bem delineado e sobrancelhas curvas. Os cílios eram longos e charmosos. Os olhos, maciamente azuis. Os lábios tinham um toque de palidez vermelha que os avolumavam. Não prestou atenção nas vestes dela, o que mais lhe interessava era o semblante e as mãos da moça. Eles eram tão contraditórios. A face exibia mistério e concentração, talvez a