Postagens

Mostrando postagens de janeiro, 2011

Areia nos dentes.

Me pus de pé. Abaixo de mim, os minúsculos e infinitos grânulos de areia me pontilhando os pés descalços. Acima de mim, a noite negra e mansa, levando agulhadas de estrelas. A única luminosidade era a dos postes lá, bem atrás de mim. Eu, sozinha na praia. Só eu e a noite, silenciosas, compactuando. Eu prometi guardar seu segredo, ela promete guardar o meu. Assim, certa da ausência de testemunhas naquela noite de fronha, deixei os chinelos e a larga camiseta ali, jogados à imensidão bege e macia, afável, compreensiva . Dei sete ou oito sedosos passos. A gélida e plasmática água salgada me toca os tornozelos. Meus ombros descem em agradecimento àquela sutileza que me serve de consolo ao calor pegajoso. Mesmo de costas, sorrio para toda a cidade e as almas que deixo para trás. Enquanto uma melodia suave e de lençol me embala a mente, caminho para dentro da massa abrangente e salgada, sem ondas, carinhosa. Mergulhei sob uma das marolas que vêm me saudar. Meu cabelo escorria pelos ombro

Quatro asas.

Livros, cadernos, lápis e canetas scattered on the table . Bzzzzzzzzzz . Ela estudava arduamente. Bzzzzzzzzzz . Escrevia, lia, anotava, relia, falava sozinha e escrevia mais um pouco. Um post - it aqui e um marca-páginas ali. Bzzzzzzzzzz . CAZZO ! , ela pensou enquanto procurava pela maldita abelha! na cozinha. Achou-a voando ao redor das três lâmpadas fluorescentes . Angustiada e brava, simultaneamente , com o zunido incessante daquele inseto , encarou a pequena abelha furiosamente. Bzzzzz...zzzzzz...zzzzzzz. Foi quando aquela minúscula bolinha amarela e preta sentiu suas asas falharem por alguns instantes e começou a girar no ar, caindo na direção dela, à mesa. Caiu, impotente, a seus pés, sem conseguir levantar voo do chão. Ela sorriu de canto, divertida com o acontecido, e bateu com o chinelo sobre a zunidora do inferno! . Duas ou três horas depois, ela continuava à mesa, persistente em seus estudos. Tiriti . Lia mais um pouco, anotava nos livros. Tirititi . Colava os post -

Travesseiro.

A escrivaninha comprida e lígnea , bege claro. A claridade diurna passando pela janela, atravessando o tecido fino da cortina quase branca. As mãos cheias de anéis e o pulso esquerdo com um relógio digitando incessantemente. O cabelo, morno, caído aos ombros, dourado. As pernas cruzadas, os pés de toe nails azuis e rasteirinha trançada balançando, despreocupados . O vestido confortável, leve. O computador emitindo as melodias de Michael Bublé . Natália Albertini .

Ela queimava.

O ambiente era iluminado somente pelas três ou quatro velas acesas, avermelhadas. Ela estava sentada ao meio do cômodo , só de calcinha e uma regata branca. Os cabelos iam bagunçados , confusos, assim como sua mente. Era rodeada por cartas escritas numa caligrafia corrida e não muito caprichada. Ela lia e relia aquelas palavras já tão conhecidas às duas e meia da madrugada daquela quinta-feira. Coçava a cabeça, passava as mãos pela cintura, lambia os lábios. Os olhos queimavam junto com a tequila escorregando sua garganta. Cada gole servia para calar sua boca. Por fim, se levantou, meio embriagada, vestiu seus jeans e chinelos. Jogou o resto da tequila em toda aquela papelada. Alcançou seu maço de cigarros ao chão. Pegou um palito de nicotina e o acendeu com seu Zipo . Então, jogou o isqueiro às cartas e deixou o apartamento. Todas as cartas que ela nunca mandou estalavam ao fogo. Ela queimava. Natália Albertini .

Bandeira vermelha.

No ônibus , estava sentada a um banco ao lado da porta de trás. Vestia uma saia que lhe ia até o meio das canelas, preta, meio enrugada, que lhe avolumava os quadris e ressaltava-lhe as pernas. Um sapato de meio-salto e uma regata vermelha. Nada às mãos, exceto alguns anéis e pulseiras. Os olhos longínquos miravam o sol. Do primeiro banco, levantou-se ele. Caminhou até a porta traseira. Era alto, vestia calça risca de giz, cinza, e camisa meio aberta, preta. Os ombros cresciam largos, e os antebraços deixavam veias à mostra, bem como pulsos brutos. O pescoço subia rude, rasamente barbado. O maxilar ia largo, quadrado, e os olhos... Bem, os olhos prenderam-se nela por alguns instantes, sem fazê-lo perder o equilíbrio, contudo. Ela tomou consciência da figura altiva, e fez com que os olhos se resvalassem, faiscando, propositadamente. Por cima do ombro direito, ela percebia que ele a olhava incessantemente de soslaio. Ela, satisfeita, sorria de canto, sem lhe dirigir outro olhar, orgulh

Meus olhos.

Uma chuva silenciosa e esguia caía hoje, por volta das quatro e meia da tarde. Minha mãe, então, decidiu me levar ao serviço, para que eu não tomasse ônibus . Sim, ela é linda assim mesmo, para aqueles que ficaram wondering . Numa das avenidas principais, o farol avermelhou. Ela reduziu a velocidade, pisou na embreagem e desengatou o carro. Falávamos sobre coisas muitas, nada de suma importância. Eu a olhava calmamente, envolvida na conversa, quando ela, repentinamente, se interrompe e diz: - Meu Deus, como seus olhos são lindos! Eu, surpresa, olhei para os lados, sem reação , e então retornei com minhas quietas reticências. Ela tentou se explicar: - São tão grandes e... Eu completei: - Azuis, mãe, sim, desde que... - Não! - ela interrompeu - Não é só a cor. São seus olhos em si. Eles são grandes, bonitos, parece que vão me engolir! Sorri de canto daquela singela constatação que ela fez. E, mãe, eles vão. Ainda vão engolir esse mundo todo, eu espero. Ps .: Ela sempre fala da minha av

Cílios entrelaçados.

Ele estava atrás do balcão da locadora de vídeos, largado à cadeira de rodinhas . Eram quase nove horas da noite, fecharia o estabelecimento em poucos minutos. A ansiedade para isso se manifestava nele em forma de pálpebras sonolentas, pesadas, e membros lânguidos. Vestia uma camiseta lisa, preta. Os ombros eram largos e magros. O cabelo caía-lhe ao queixo, escorrido, tão negro quanto as vestes, quase se misturando com a barba por fazer, os cílios e os olhos castanhos. De súbito e sem motivo aparente, seu rosto, como que instintivamente, virou-se para a direita, encontrando a visão mais disturbadora que já teve: ela. Não havia ouvido barulho algum, mas de alguma forma a garota estava ali, postada ao balcão, encarando-o tão curiosamente quanto ele o fazia. Ela tinha a pele marcada pelo Sol, em tatuagens de biquíni à mostra pelo vestido tomara-que-caia. Seus cabelos, escuros e volumosos, alcançavam-lhe a cintura. Seus cílios eram longuíssimos, e seus olhos eram quase que lilás de tão cl

Alongamento.

Encostada na parede da sacada, sentada ao chão, com o computador no colo, os dedos alongados digitando palavras descrevendo a si mesmos, metalinguísticos, envolvidos naquela mísera garoa praiana. Os cachos, entretanto, pensavam milhas longe dali, universos paralelos. Natália Albertini.