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Mostrando postagens de setembro, 2009
Tinha escrito umas boas duas páginas, mas não gostei e deletei tudo. É isso que chamam de escrever, certo? Natália Albertini.

Dorme, Ná. Mamãe te chama quando chegar em casa.

Fim de festa. Minhas pálpebras pesam, difícil resistir. Estendo meus braços gordinhos na mesa enfeitada e adormeço. Trevas. Pontinhos de luz penetrando meus cílios. Papai me carrega enquanto se despede de todo mundo. Estou cansada, finjo que estou completamente adormecida, com o pescoço mal ajeitado, a cabeça jogada no ombro dele e os braços largados ao lado do corpo de qualquer jeito, enquanto meu par de All Stars número 26 balança nas mãos de mamãe, a meu lado, despedindo-se de titia. Papai me leva até o carro. Quando chega, com muita agilidade abre uma das portas traseiras e me ajeita no banco. Fecha a porta e dá a volta no carro, tomando seu posto de motorista enquanto mamãe ajeita-se no banco do passageiro com as incontáveis Tapawers contendo pedaços de torta, salgadinhos, brigadeiros, bolos e afins. A viagem de volta pra casa começa. Me posiciono da melhor forma para um sono bem aproveitado. Porque o melhor sono é esse. Esse do banco traseiro desse Santana azul, quando tomo conta

Areia.

Sacada preenchida por brisa. Rede balançando sutilmente, no embalo das ondas que ecoavam ao longe. Um braço pendurado para fora, os dedos enganchados na orelha de um livro. Silêncio marítimo. Cheiro salgado e respiração tranqüila. Sonhos em preto leve, delicado. Louça no escorredor de pratos. Mesa arrumada. TV desligada e lápis no chão, ao lado do sofá. Sono envolvendo todos os corpos. Era assim que eram observados: com enorme ternura e carinho. Quanto ao corpo que dormia na rede, era tão corpo que passava a ser só espírito, leve, quase que flutuando. As preocupações tinham sido levadas embora. Só sobrava aquele gosto de saliva seca e palavras herméticas de Clarice Lispector nas pálpebras agora fechadas, absorvendo as idéias e se identificando cada vez mais com elas. Dezembro. Meus dezembros... Natália Albertini. Ps.: dica de música de acompanhamento: "Exploration", da trilha sonora da Coraline que, a propósito, é um filme lindo.
O mar lambendo a areia, o sorvete, o açaí, Perfil 2, Imagem e Ação, os filmes, o sofá-cama aberto, a rede, a varanda, a brisa, o chuveiro, a beliche, a cozinha apertadinha, o ventilador de teto da sala, o apartamento no segundo andar, as escadas, o elevador tão antigo, os bancos na entrada do prédio, o portão, o asfalto quente, a árvore da esquina, o gótico, o calor, o amor platônico de Havaianas, o pastel, o protetor, a Fê reclamando da areia grudada no corpo, as caminhadas, o calçadão, as pessoas, as pranchas, as estrelas, os carros com música alta, a Rio de Janeiro, chegar tarde depois de andar na Pitangueiras, as pedaladas infinitas, o chuveiro lá de baixo, a padaria, a farmácia, as sonecas no meio da tarde depois de tomar muito sol e nadar, o vôlei ao pôr-do-sol, os convites a umas voltinhas num invejável Eclipse, os caras-enchidas, as naves-espaçonaves etc. De tudo isso sinto muita falta agora. E só tô torcendo pra esse feriado continuar com esse tempo maravilhoso pra poder volta