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Mostrando postagens de junho, 2011

Semi.

Ele recostava-se ao balcão, com uma cerveja em mãos, olhando o mundo do topo, já que era suficientemente alto para tanto. Não movia-se muito, só analisava as mortais que dançavam. Flitching glimpse . Uma semi -deusa à sua esquerda. Ele, sem perder a compostura, encarou-a passando logo à frente. Ela era mais baixa que ele, tinha os ombros e as pernas, voluptuosos, à mostra, convidativos. Seus olhos a percorreram de cima a baixo. Ela percebeu, mas não mostrou qualquer reação , a não ser esbarrar nele de modo fingidamente ocasional, fazendo os corpos se tocarem por milésimos, faiscando. Ele a seguiu com os olhos até ela sumir na multidão. Balançou a cabeça de leve, recuperando-se, voltando a seu patamar. Entretanto, nenhuma outra dali era tão interessante quanto aquela. É claro, porém, que suas expressões não demonstravam nem vislumbres do conflito interno. Foi quando, de súbito, ela voltou e se postou à sua frente, muito próxima, furiosa. Eles sustentaram um olhar flamejante, sangue e f

Queima.

Saiu do prédio em direção à rua, com a blusa meio caída ao ombro esquerdo. No outro, a bolsa pendurada, aberta, de onde ela tirava o celular com mãos frescas. Uma mulher menos corpulenta e juvenil que ela a parou: - Por favor! Atenciosa, levantou os óculos-de-sol, fazendo com eles uma tiara aos curtos mas pesados cabelos alaranjados. - Pois não? - sua voz era adocicada e prestativa. - Qual é o número do apartamento da síndica? - 12, se não me engano, senhora - os cílios pôr-do-sol. A mulher de meia idade sorriu, singelamente agradecida, e completou: - Que Deus te abençoe! Já se afastando, o pequeno raio de Sol engoliu aquelas quatro palavras como se fogo lhe descendo a garganta. Os olhos flamejaram e teve uma comichão nos braços, quase deixando a subpele vermelha subir à tona. Malditos. Malditos fossem! Jogando suas bênçãos aos ventos, a aqueles que mais as desprezavam e odiavam. Fez os olhos saírem do vinho e voltarem ao cinza, indiferentes, gélidos. Voltou-se a seu propósito maior. E

Florida

She had her back on the wall . She was sitting on the bed , which was covered in white . Her legs were long and naked . The hot Florida air made her wear nothing but panties and one of his big baseball shirts . He was almost falling asleep on her lap , his eyes were light green and his eyelashes , deeply blonde . She had a book in one of her hands , while the other one had its fingers on his yellow and straight hair . He stretched his body , half naked as hers , but on the top part of it , and found a new and better position for his head above her soft legs . Almost voiceless by the tiring hot weather and the sleeping atmosphere , seconds before falling asleep , he whispered , unconsciously : - Don't let me go . She heard . She laid down the book , smiled with affection and got down , putting her face right in front his , almost gathering their lips . She whi

Cintura.

O sol matutino cutucou -lhe as costas descobertas. Ela franziu o cenho e mexeu a boca, passando a língua pelos lábios, tentando fazer com que aquele insistente e meloso sono desgrudasse dela. Espreguiçou-se e murmurou um baixo "já vou" para o sol que se esparramava pelas costas. Barulho da televisão do lado de fora da porta fechada do quarto. Esticou o corpo esbelto, forçando braços e pernas para cima, mas então deixou-se cair de novo sobre o travesseiro e o lençol amarrotado. Engoliu saliva seca, ainda cheirando a rum. Franziu o cenho de novo, sentindo os cílios se embaraçarem sobre pálpebras pesadas e dorminhocas . Forçou o pescoço para baixo, encostando o queixo no peito, e, com a camiseta levantada até as costelas e a boxer um pouco abaixada, enxergou sua cintura, esverdeada em um ponto e arroxeada em outro. Levou uma das mãos até ali e tocou os hematomas. Dor. Vislumbres da noite passada. Sorriso largo e olhos fechados de satisfação. Virou para o outro lado, encolhe

A represa.

Sentada numa cadeira escura, numa posição confortável, com os joelhos altos e os braços cruzados sobre eles, vestia um simples vestido azul e branco. Conversava de maneira animada com os amigos. Falou-se alguma besteira, causando gargalhadas. Ela mesma riu, distraída. Todavia, olhou para um deles enquanto terminava a risada com um largo sorriso. O rapaz tinha os olhos fechados e jogava a cabeça para trás, rindo. Aquilo a levou para um outro tempo, com um outro alguém, de gestos idênticos a aqueles. Seu sorriso diminuiu vagarosamente. Ela se lembrou daquela outra pessoa, lembrou-se de que a havia esquecido por vontade própria. E de fato não se arrependia daquilo, mas as lembranças lhe encharcaram a mente, tickling . Grudou os olhos ao chão, já séria, enquanto os colegas se perdiam em uivos de risadas . Lembrou-se também de uma outra pessoa, deixada para trás por vontade da cruel vida, e não por ela mesma. Lembrou-se de sua casa e da infância passada ali. Recordou-se de todas as cicatriz

Nós.

Sentado ao sofá, admirando a TV como sempre faz, com o controle numa das mãos, ele fica ali, meio boquiaberto, incomodado com a própria respiração. Calça um par de tênis, veste um par de jeans, uma polo amarela e uma blusa de lã de seu pai. Admiro-o por isntantes curtos, para que o momento não seja perturbado, para que eu tenha tempo de fotografar aquilo mentalmente antes que ele se mexa. Os óculos grossos escondem olhos castanhos extremamente bondosos. O cabelo ralo evidencia a inteligência. Os pulsos incrivelmente largos me remetem aos meus próprios. Ele enfim me vê, me dá um oi desanimado. E eu sei porquê. Todos sabemos porquê. Eu estou desanimada também, e amanhã, reunidos, todos ainda estaremos. Sem você. Ele sente isso. Eu sinto isso, sinto o quanto ele é abalado por isso, mas não tenho a coragem de abraçá-lo e dizer em voz alta que compartilho de seu sofrimento. Afinal, é esse meu caráter que me torna mais filha dele. Agora, meus ossos são pesados demais para que ele me carregue