Postagens

Mostrando postagens de julho, 2011

Cicatrizes de fogo.

Eu corria as fast as I could . Minhas coxas levavam chibatadas, quase não aguentavam mais. Eu corria, corria, corria. O suor me brotava na nuca, gelado de cansaço. E de medo. Eles estavam atrás de mim. DE MIM! E gargalhavam à minha volta, invisíveis no escuro denso. Meus pés começaram a falhar, mas a inércia ainda não era forte o suficiente para fazê-los parar. Forcei-os mais. As gargalhadas endemoniadas enchiam o ambiente invisível. Era como se eu estivesse vendada e eles rissem ao pé de meus ouvidos, muito próximos, me puxando pelos pulsos, me ordenando que eu ficasse. Os toques e puxões que eu recebia nos pulsos pareciam me queimar a pele. Meus olhos estavam arregalados, meu peito, arfante. Meu corpo pedia descanso, embora a corrente de adrenalina fosse gigante. Me perdia em desespero, pressa, agonia. ELES ESTAVAM EM VOLTA DE MIM, PRESTES A ME PEGAR. Um calor insuportável se alastrava, meu corpo parecia em chamas. Aquela temperatura altíssima e muito vermelha se espalhava pelo

Energyless

Ela andava despreocupadamente, com seu gingado habitual, balanço os lisos e curtos cabelos escuros. Sibilava a letra da música que ouvia. Chegou ao terminal de ônibus. Escuridão. Ela arqueou as sobrancelhas e diminuiu o passo, colocando a bolsa mais à frente do corpo. Logo entendeu que a região encontrava-se sem energia. Esquadrinhou o ambiente, apertando os olhos, adaptando-os ao escuro. A claridade do dia já se esvaía por entre as nuvens, mas ainda ajudava a dissipar - ainda que minimamente - o preto generalizado. Os vultos iam e vinham, andando com cuidado para não se esbarrarem. Ela apertou o passo de novo e começou a atravessar o escuro, em busca da outra extremidade, onde a luz do dia, ainda que rala, a ajudaria. Uma voz feminina vindo dos fones sussurrou low battery e desapareceu. Até seu próprio iPod a abandonou. Ela passou a andar ainda mais rápido. Mantinha os olhos à frente, como se usasse o próprio cabelo de cabresto, não ousava olhar para os lados. O escuro ainda era o qu

Sardas.

Saia de cintura alta, camiseta de manga três quartos, botinas e jaqueta de couro, bolsa tamanho exagerado, óculos escuros, fones de ouvido brancos e livro numa das mãos. Eu ouvia Vampire Weekend , entretida. Olhos. Olhos à minha cintura. Detectei-os à minha esquerda. Com os pés fixos ao chão do metrô em movimento e uma das mãos segurando firmemente um apoio, virei o rosto para a fonte dos olhos. Nada. Ninguém me olhava. Os olhares pareciam ter vindo de um corpo masculino bem formado aos ombros e ao ( hmmm , e que ) pescoço e de um rosto incógnito, já que a cabeça estava abaixada, ocupada em ler um livro com figuras de arte barroca. Vi somente uma boina cinza encobrindo a cabeça indecifrável . Dei de ombros. Voltei a encarar as janelas do metrô . Olhos. Olhos à minha cintura. Desta vez, fui mais rápida. Virei o rosto novamente. Choque. Ele me encarava. E era lindo. Tinha a pele muito clara, com algumas poucas sardas, cabelos alaranjados, bem como os cílios, e olhos adocicadamente ve

A e B.

Apoiada sobre as botas de cano alto, eu conversava educadamente com minha mãe e um de seus colegas de trabalho. Um outro conhecido falou com seu bebê: - Ai, João, chega! Papai não aguenta mais te segurar assim! Ouvindo isso, os três que conversavam, olharam para o pai e seu filho, loiro como Peter Pan , e se ofereceram para segurar a criança um pouco. O pai, baixinho e meio careca, impulsionou a criança para frente, entregando-o ao colega de trabalho que conversava com minha mãe e comigo. O bebê se esquivou, esboçando um não com as palavras. Foi impulsionado de novo, mas agora em direção à minha mãe. A reação da criança foi a mesma. Por último, foi içado para frente, mas desta vez, em minha direção . E, desta vez, o rosto do bebê se iluminou num sorriso banguela , fazendo os olhinhos verdes brilharem. Ele estendeu as maozinhas gorduchas e branquinhas , como paezinhos , para mim, radiante. Fui contagiada, naturalmente estendi um amplo sorriso, retribuindo-lhe. Coube perfeitamente n

Encaixe

- Então... Vamos mesmo fazer isso? - ela o encarou aos olhos. - Sim. - Não vai voltar atrás? - Não mesmo. Ela sorriu. Ele, idem. A esse ponto, as borboletas de cores pasteis já estavam calmas, embora ainda uma ou outra farfalhasse as asinhas por dentro daqueles estômagos , fazendo cócegas. - Então está bem - como sempre, ela tinha dificuldades em parar de falar e em deixá-lo. Ele assentiu com a cabeça, ainda a olhando com aqueles lânguidos e macios olhos verdes-mar, sorrindo com o canto dos lábios. Ela baixou seus cílios, olhando com os seus azuis-turquesa para o chão. Olharam-se de novo, como se aquela separação fosse durar uma eternidade, como se fosse a coisa mais difícil de se fazer. Não precisavam se tocar, os olhos por si só se prendiam. Ela deu um passo pra trás, enfraquecendo o feitiço. Ele não se moveu, não deixou de fitá-la por um segundo sequer. Ela se virou, não tão pronta quanto pretendia, para partir. Deu dois passos na direção oposta da dele, já de costas. Todavia, al