Postagens

Mostrando postagens de maio, 2012

Veludo.

Ela corria. As gotículas daquela chuva morna caíam-lhe ao rosto. A capa de veludo verde escuro ondulava às suas costas, o capuz tapava-lhe os olhos a cada passada. Os galhos estalavam a seus pés, as árvores a observavam, serenas e notívagas. A noite pesada preenchia o bosque. Ela sentiu o cheiro do rio gelado mais à frente, correndo como ela. Alargou ainda mais os passos, esquentando o corpo que horas antes tremia de frio. Alcançou, por fim, a margem daquele corpo lânguido e azul. Escuro.  Ela agachou, ouvindo os gritos cada vez mais próximos daqueles que a caçavam. Enfiou a mão no bolso direito com rapidez e segurança, sentindo o toque aveludado do tecido denunciando a chave escondida ao fundo. Determinada, deixou a chave escorregar de sua mão, mergulhando no rio gélido e imponente. A chave voltaria para ela, tinha certeza disso, quando mais tarde a procurasse. Para a mão deles, jamais. Pôs-se de pé, de costas para o rio, de frente para os homens que se escondiam a menos d

Número 1.

A porta se fechou com um baque atrás dele. O que os olhos castanhos dele viam eram os acinzentados dela. E aí, claro, desciam pelo pescoço delgado e o colo apetitoso num decote generoso. Jogou as chaves do quarto sem se importar onde cairiam. Trotou até a cama, arrancando a camisa ferozmente, exibindo os ombros deliciosos. Pegou-a pelos cabelos da nuca e lambeu-lhe o pescoço, enchendo a boca com as línguas. A crina escura e pesada dela corria pelas costas. Ele lhe arrancou a roupa com a velocidade e, principalmente, a fome de um lobo. Os sons emitidos por ambos eram tão animalescos quanto seus movimentos. A boca esbranquiçada de sede dele percorreu o corpo da criatura espalhada pela cama, sentindo a pele dela queimar-lhe a língua. A sexta tatuagem dele e a primeira dela movimentavam-se languidamente. Lamberam-se, morderam-se. Engoliram-se. Canibalismo viscoso. Natália Albertini. 

Dancing in the rain.

Ele olhava para a água caindo sobre sua cabeça e espirrando pelos azulejos. Ela o olhava encantada. Vidro separava os corpos postados de pé. Ela abriu a porta de correr, pisou no chão molhado e um pouco escorregadio e voltou a correr a porta para não deixar molhar o resto do cômodo. Ele sorriu pra ela, enlaçou-a pela cintura com o braço esquerdo e, com a mão direita, segurou a dela. - Vamos dançar - ele disse. Ela riu da ideia, mas se deixou levar pelos passos leves, molhando os cabelos enquanto dava as vagarosas piruetas. O banheiro girava em câmera lenta e a água caía morna. Seu estômago também rodopiava devagar, mas era uma sensação deliciosa. Ao fundo, o som da TV ligada no quarto sussurrava. O sorriso dos dois formavam luas minguantes. Ela desejou com força que ele a continuasse girando e girando e girando. Se apaixonou por aquela tontura. Natália Albertini.