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Mostrando postagens de maio, 2020

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Ela olhou no relógio, impaciente, balançando o pé da perna cruzada, enquanto olhava pra TV, sem prestar atenção. Alguns minutos depois, olhou de novo no relógio: dez e meia da noite! Ah, não, agora já era demais. Levantou bruscamente e marchou até o quarto de Ana Paula, abrindo com força a porta: - Ana Paula, pelo amor de Deus! Que horas vamos sair?! São dez e meia, filha! Ana terminou de passar o rímel, correu para desligar a música que tocava alto,  borrifou o perfume, se olhou uma última vez no espelho e enfim olhou pra mãe, sorridente: - Agora, vamos, vamos! Abraçou-a por trás enquanto a empurrava de volta para sala, dançando, brincalhona, mas Regina estava bem impaciente e andou dura até a cozinha, pegou a chave do carro e gritou: - Fernando, estamos indo! - Tchau, pai! - Ana Paula gritou. - Tchau, filha, boa festa! Regina revirou os olhos. Ele deveria reprovar isso tudo! Onde já se viu… Saindo de casa às dez e meia da noit

01:30am

01:30am. Nina gritou. Cada vez mais alto, cada vez mais agudo, gritou, gritou e gritou:      - Mamãããããããããããeeee!! Aaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii Daniela acordou, assustada. O travesseiro molhado de suor frio, a franja colada na testa, o coração pulando, como se fosse lhe rasgar o peito. Sentou na cama rápido. Olhou o relógio: 01:31am. “Caralho, de novo!”, num meio pensamento, enquanto andava para o corredor e se apressava em direção ao quarto de Nina. Pisou de leve no taco perto da porta do quarto dela, porque ele sempre estalava, e ela não queria acordá-la de novo. Abriu a porta bem devagar e silenciosa. Viu o abajur projetando os unicórnios rosa na parede e Nina dormindo profundamente, quietinha, de costas para a porta. Daniela entrou no quarto e agachou ao lado da cama de Nina. Passou a mão nos cabelos curtinhos da nuca dela e suspirou baixo. Nina resmungou algo baixo, mas continuou dormindo. Daniela saiu do quarto sem fazer barulh

Arrancado

     - Peraí, antes de desligar, vou chamar seu pai pra te dar um oi!       -   Ah, não, mãe! - ele falou apressado, revirando os olhos - Não precisa! - mas ela já tinha saído da frente da câmera, ele agora só via o sofá e aquele quadro da sala da casa deles.         Aquele quadro sempre o deixou aflito. Era abstrato, mas Victor sempre parecia enxergar um único olho, seco, o encarando friamente.         Ele odiava ter que ligar pra sua mãe toda semana, mas era a condição que ela lhe havia imposto: todo domingo, às 13h, se ligariam pra “enganar a distância”, ela dizia.         Ele havia finalmente se mudado da casa de seus pais. Vivia agora numa outra cidade, num outro estado, a muitos quilômetros de distância. Morava num apartamento pequeno. Tinha um quarto só seu, mas dividia a casa com outros dois garotos.         Sua mãe não amava essa situação nova, mas a condição da videochamada semanal a deixava mais tranquila. E por mais que Victor odiasse isso… Ele a amava muito, mais do q