Marcela
Tinha um ás, um valete e um quatro de copas em mãos. Os casais à sua frente riam e jogavam suas cartas, felizes de vinho. Ela sorria junto, mas a mente começava a divagar. - Marcela, joga logo! Eu já falei! - o pai lhe beliscava o cotovelo na poltrona apertada do avião - Ai, pai! Eu não consigo clicar nesse. - Meu Deus do céu, Marcela, eu já falei, porra, é aqui e depois aqui. - Aqui, pai? - É, vai logo. - Tô fazendo certo, papai? Silêncio do pai, olhando pela janela o céu ensolarado. - Mamãe, olha, tô jogando baiaio! - Ai, filha, é BA-RA-LHO. Puta merda... - expirando ar quente, cansada e desatenta. A franjinha de Marcela lhe caía aos olhos. Ela se esforçava o máximo que podia para clicar na carta certa que o celular lhe mostrava, mas os números e cores eram confusos, ela não sabia ao certo qual... E se clicasse errado, papai ia beliscar de novo e de novo, e ela não queria. Tentou cutucar mamãe para pedir ajuda escondido, mas ela tirou a mão quando sentiu os dedinho...