Flutuando
Tem um lugar dentro de mim onde guardo muitas coisas. Eu quase nunca vou lá. É um lugar com uma luz baixa azulada, e bem empoeirado. Às vezes tem um som quieto, que me lembra Sigur Rós, mas na maioria das vezes, é apenas silêncio com alguns ecos de vozes que quase soam conhecidas. Não é como se eu não gostasse de lá, porque ele também é meu, e as coisas que guardo lá, eu... Eu as amo muito. De alguma forma, elas são algumas das minhas coisas mais preciosas. É só que... é difícil de achar o caminho de lá e mais difícil ainda achar o caminho de volta. Esse quarto, cômodo, canto, esse lugar que não tem nome tem as paredes da casa do vô Germano e também as camas do quarto dos meus tios com cheiro de roupa lavada, mas também tem o quintal da casa de Pérola, com uma mangueira enorme, e a sombra de um gato rajado. Tem o canto da sala onde me encolhi e chorei quando pedi pra levarem um brinquedo de papel que eu fiz especialmente pra vó Elza, e me disseram que ela não podia mais recebê-lo....