Abre bem a boca.
Apoiava-se num dos bancos para manter o equilíbrio enquanto o veículo grande e metálico fazia manobras, freava e avançava nos sinais. Olhava pelo vidro, enxergando sem ver o mundo andante lá de fora. Foi quando, impulsionada por um movimento do ônibus, sentiu aquele cheiro tão familiar e ao mesmo tempo tão estranho. Empurrou a cabeça para a direita e então a viu: a mulher estava sentada num dos assentos, com uma expressão facial de profunda agonia, enquanto segurava com a mão esquerda uma pequena toalha cor-de-rosa, encharcada daquele líquido rubro e viscoso tão bem conhecido de todos. Franziu o cenho e tentou respirar o mínimo possível, evitando que o odor da desconhecida subisse por suas narinas, embora hipnotizada pela cor de tamanha aflição. A mulher levou a toalha à boca e a enxugou, umidecendo ainda mais o algodão com aquela cor escura. Então todo aquele sangue vinha dali, da boca dela que parecia jorrar visco. Ora essa, mulher, o gato comeu-lhe a língua? Independente do autor te...