Eu ia fazer um texto poético e narrativo, ia me descrever sentada naquela sala de estar tão espaçosa, descalça, sentindo a textura do sofá florido sob meus pés e a cortina batendo bem de leve em minha nuca. Só que ai eu lembrei que a TV não está mais lá, e foi aí que as lágrimas começaram a saltar de meus olhos mais uma vez. Sabe, eu suprimo essa dor todo dia, a cada olhar não lacrimenjante e a cada sorriso que forjo. A cada "sim" que respondo pra cada "tudo bem?" que me perguntam. Mas tem dias que não consigo simplesmente engolir, tenho que vomitar de novo essas vísceras já, infelizmente, familiares. A chuva que cai agora é fina e incisiva. Tenho vontade de sair no seu quintal e sentir essa água me lavar, queria ter a fé da Evey, queria acreditar que você, vô, pode estar na chuva. Assim, nos tocaríamos mais uma vez. Fui à sua casa domingo. Quando chegamos, meu pai foi ao banheiro e me deixou sozinha naquela imensidão da sua casa. Meus dedos, por vontade própria, fo...