Nair.

Ela dirigia uma Spin.
O banco bem puxado pra frente, pra alcançar pedais e volante.
Tinha um celular Android e o aplicativo da 99Taxi.
Chamava voucher de "vaut" e tinha um anel no dedo anelar da mão direita - não sei dizer se era uma aliança, nunca fui boa em diferenciar isso.
Sua pele era escura e suas mãos, pequenas. Seu cabelo ia curto, até um pouco rente à cabeça, e seus olhos eram jabuticabas, mas daquelas que ainda não adoçaram.
Não confiava no GPS, mas tinha São Paulo na palma da mão.
Não puxou muita conversa, mas também não ficou muito calada.
Nos levou daqui até ali, reconhecendo cada rua, até mesmo aquela tal Relíquia.

Queria saber onde mora Nair.
Queria saber se tem filhos, se gosta de tomar café ou que cor acha que vai bem com sua pele.
Gosto de imaginar, contudo, que chega sempre em casa tarde da noite, porque dirige um táxi de madrugada, que seus dois filhos, Bruno e Débora, deixam sua janta pronta no micro-ondas, e que a foto do pai deles já não mais existe naquela casa.
E que, mesmo assim, Nair levanta-se todos os dias, se sentido mais e mais forte, assim como seu café. 

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