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Ela

TumtumtumtumtTUMTUM TUM Ssssssssssssssssssssssssssss TumtumtumtumTUMTUM TUM As janelas tremiam, quase se soltando. O vento não derrubava a casa por pouco. A caneca fumegava café e afogava todas as ideias. As mãos com caminhos falhos deitavam sobre o teclado, imóveis. A tela brilhava mais para o azul, e o documento continuava limpo. De novo, ele tomou um gole do café tão amargo que fizera. Olhou pela janela. TumtumtumtumtTUMTUM TUM Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuhhh O vento uivava para ele com desdém, reduzindo-o a sua insignificância e incapacidade de escrever uma página sequer. Ele voltou o olhar à tela em branco. Inspirou profundamente, passou os dedos uns nos outros e expirou, desapontado. Já passava do 2º ano agora e ainda não havia saído do título. Só o que tinha encabeçando a página e a si mesmo era esse maldito título: Ela. Ssssssssssssssssssssssssss

Clareia

Leve abrir dos olhos. Gosto de cerveja ainda na boca. Inspira. Expira. O dia já vai claro, mas a noite de ontem ainda parece próxima. Rasa tontura Ele respira também, profundo. Seu peito sobe, e desce, junto com minha cabeça. Abro mais um pouquinho os olhos. Meu nariz encosta seu queixo. Inspiro mais uma vez. Beijo seu ombro, me aninho melhor, beijo seu pescoço. Não há melhor manhã que essa.

Vá.

A cabeça era um espiral só. Uma névoa tão grande por detrás dos olhos que mal se via no espelho que ficava à sua frente. Sentada na cama, ainda lhe parecia que faltava o chão. Os mesmos questionamentos, todos os dias, pelo milésimo dia consecutivo. Por quê? Pra quê? Pra quem? Até quando? Já não aguentava mais. Pois levantou-se num impulso único, deu seus passos pesados, passou a mão na chave do carro e na jaqueta, e bateu a porta atrás de si. Foi-se.

Outra vez.

Mais uma vez, a morte me pega de sopetão. Numa sexta à noite, quando tudo ia bem, a morte veio pelo telefone, nos deprimir, nos revirar. "Infelizmente, ela não aguentou", foi a mensagem passada. Muita correria, meus pais viajaram na madrugada com meus avós para chegarem até meu tio, lá no Sul. E estamos nos falando por whatsapp por enquanto. Minha mãe diz que está tudo até que bem, sem muito choro... Mais de vinte anos, fazia, que ela teimava com o câncer em deixá-la por aqui mais um pouco. "Foi melhor assim pra ela", a gente tenta se consolar... Foi? Será? É engraçado como a gente tenta achar meios de aliviar a dor. Eu sei, tia, que a gente não se via há um tempão. Mas sei também que o amor era puro. Assim como meus cachos sempre nascem loiros e o seu cabelo sempre nascia tão preto e forte, como você sempre brincava. Isso ai. Outra vez você vem mostrar seus caninos e me derrubar.  Parabéns, você não erra nunca, desgraçada. Espero que um dia se depare

Um novo ano.

Acabei de voltar de Buenos Aires. Passei lá oito dias. Foram oito dias incríveis. Mesmo. Por muitas vezes eu pensei em escrever algo, mas na correria da viagem e no cansaço que me batia ao entrar no quarto do hotel, deixei passar. Eu tinha uma ideia bem boa, tentei ao máximo guardá-la. Posso até revirar as memórias agora e tentar vomitar algo, mas... Não sei... Bem, um novo ano começou. Achei que valia o marco aqui. Um novo ano. Uma nova chance de eu voltar a escrever, de me revirar. Vejamos o que isso me traz...