Fase de porcelana.

 Boys Like Girls - Thunder
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Dalila se esticou para alcançar o armário da cozinha. Assim que conseguiu, pegou dois pratos e fechou a portinha. Numa das belas peças de porcelana, colocou macarrão talharim e, por cima, bastante molho branco. Na outra, colocou praticamente o dobro de comida. Assim que terminou, levou os pratos para a mesa já arrumada e os posicionou frente a frente. Voltou ao balcão e da primeira gaveta da esquerda tirou dois garfos. Enquanto fechava a gaveta com a perna e se virava de volta para a mesa, gritou:
- Guilherme, vem comer!
O barulho dos degraus lígneos rangendo delicadamente sob os pequenos pés soou familiar a Dalila. Em menos de quarenta segundos, a criança chegou à cozinha e se sentou numa das cadeiras.
- Se estiver sem sal, me avisa, tá bom, filho?
O menino cruzou os braços e franziu o cenho. Sua pele era morena e tinha o cabelo tão escuro quanto os olhos. Seus cílios enormes sempre encantavam a jovem mãe que agora sentava em frente à criança.

Enquanto enrolava o macarrão no garfo, olhava fixamente para a expressão sisuda do filho:
- Que foi? Tá sem fome ou é só frescura? Já está bem grandinho. Já tem doze anos, é quase um homem! Pode muito bem comer sozinho, não acha? - riu levemente, colocando a primeira porção na boca.
O garoto continuou sério e mudo. Seu olhar se dirigia à vidraça da janela, inexpressivo.
- Vamos, Gui! - a mãe esticou o corpo sobre a mesa e, com o garfo do menino, enrolou um pouco de talharim e imitou barulho de avião - Olha o aviaozinho!
Sem resposta, a mulher apoiou os dois cotovelos na mesa. Numa das mãos, tinha o garfo. Já a outra apenas ficava por baixo para que o molho não sujasse a toalha. Só então sua expressão passou a mostrá-la preocupada. O filho nunca rejeitara uma porção de comida sequer quando ela fazia aquele gesto tão rotineiro.
- Que que foi, Guilherme? Aconteceu alguma coisa? - ela deitou o garfo no prato e se esticou mais, então alcançando o rosto do garoto, acariciando-o - Aconteceu alguma coisa na escola, na natação ou no piano?

Ela deixou a cabeça pender para o lado esquerdo e mordeu o canto da boca, visivelmente concernada.
- Vamos, filho, conta pra mamãe o que aconteceu...
De forma repentina, a criança direcionou o olhar à mãe e colocou as mãos por baixo do prato, logo jogando-o para fora da mesa num ato de fúria.
- Eu não sou seu filho! Eu odeio quando você me chama assim! Você não é minha mãe! - a voz saiu aguda o suficiente para perfurar o peito e contorcer a garganta da mulher.
- Meu bem, nós já conversamos sobre isso... - ela fingiu paciência e compreensão.
- Já! E você me disse que eu não vim da sua barriga! Eu quero a minha mãe! Mãe! Mãe! Mãe! Mamãe! Tem uma mulher fingindo que é você! Mamãe! Mamãe! - os gritos saíram estridentes, graves, altos, amedrontados, ameaçadores, espaçados e consecutivos. Enfim, saíram da maneira mais natural, a maneira como a raiva e o medo se manifestam juntos.
- Não, filho, não faz isso... - ela não pode evitar que seus olhos ficassem marejados.
- Eu não sou seu filho! Não sou! Olha como você é branca! Eu não sou seu filho! Mãe! Mamãe! Não sou seu filho, sua branquela! - e subiu correndo para o quarto.
A mulher escondeu o rosto entre as mãos e deixou que a série de soluços salgados viesse.

Ás oito e vinte da noite, Fábio chegou em casa e encontrou o filho na sala de estar, assistindo à televisão. Deu-lhe um beijo e um abraço e perguntou:
- Cadê sua mãe?
- Não sei - uma estranha sinceridade pôde ser percebida na frase do menino.
Subiu as escadas e abriu a porta de seu quarto. As cortinas estavam fechadas, deixando passar apenas a escassa luz proveniente da rua.
Procurou pela quarto, sem acender a luz, e então viu a esposa. Estava na cama, jogada, cercada por travesseiros e lenços de papel. Trajava o pijama do marido, deixando claro sua dependência dos laços afetivos estabelecidos entre eles.
O homem fechou a porta enquanto largava a maleta e o paletó no chão mesmo. Correu para a cama e ainda calçado deitou-se ao lado dela, abraçando-a com força.
- O que houve?
Ela tremia perceptivelmente quando respondeu:
- De novo. De novo. Eu devo ter falhado... De novo ele... - e simplesmente parou de falar.
O marido estava bastante assustado, pois a mulher estaria completamente imóvel se não fosse pelos calafrios e espasmos. Ela tinha os olhos arregalados e fixos em um ponto qualquer do quarto, as pálpebras inchadas, os cabelos bagunçados, os braços e as pernas colocados de qualquer maneira, fracos, a pele pálida e a respiração rápida e contínua. Parecia estar em transe ou algo do tipo. Era perceptível sua imensa fraqueza.
- Quer que eu converse com ele?
Ela negou com a cabeça.
- É só uma fase, meu amor. Isso vai passar, você vai ver...
- Já fazem cinco anos... - a mulher teve bastante dificuldade para completar a resposta.
Ele a aninhou entre os braços e beijou-lhe as costas, sentindo-as extremamente geladas:
- Nós vamos conseguir. Não desista, meu amor...

Natália Albertini.
Ps.: E se fosse você?
Pss.: me desculpem a demora. Tentarei agilizar alguns textos iniciados.

Comentários

taís disse…
oi ná, é a tatah da sua sala. fiz um agora e achei o seu..
muuuuuuito bom o texto, gostei mesmo, parabéns tá?
um beijo!

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