Bicho Papão

Reinaldo passou a mão esquerda pela coxa da esposa e pouco abaixo da virilha, apertou-a.
- Querido, espera eu colocar o Renato na cama, tá? - e beijou os lábios avantajados dele.
Assim que ele a puxou para o colo, lambendo-lhe a nuca, a criança com a cabeça pendurada no outro braço do sofá abriu os olhos sonolentos e pôde ver, antes dos adultos perceberam sua presença não mais dormente, os pais se amassando, enquanto que seu pai, seu maior herói, seu maior exemplo, sussurrou audivelmente para a mulher em seus braços que não mais parecia sua mãe de tão descabelada e descoberta:
- Eu vou te comer...
Renato postou-se de pé num pulo á frente dos dois agora de olhos esbugalhados como um adolescente pego em flagrante enquanto pratica seu primeiro furto. A mãe tentou algo:
- Neném, a mamãe e o pap...
Antes que pudesse terminar, a criança teve seus olhos marejados. Prendeu o maxilar e fechou as maozinhas como o faria um advogado orgulhoso que perde o melhor caso de sua vida. Fez um beicinho e então saiu correndo.
Os pais se olharam sem saber o que fazer. A mãe saiu do colo do marido num impulso e foi em direção ao quarto do filho, mas não sem antes arrumar o cabelo olhando-se no espelho da sala. Bateu duas vezes na porta e entrou. O que viu foi o filho de costas, com uma pequena mochila dos Power Rangers escancarada, bem como uma gaveta, de onde tirava algumas cuecas do Snoopy. Teria rido ao ver como ele se parecia com trinta anos, ainda que tivesse apenas seis naquele momento, mas a tensão era maior.
- Filho...
- Não quero saber, Estela, não quero saber! - não chamá-la de mãe finalmente a fez rir, quase gargalhar.
Ela se sentou ao pé da cama e o pegou no colo.
- Não quer saber do quê?
Ele se manteve frio, sem abraçá-la.
- De vocês dois! O papai simplesmente...
- Filho, as pessoas têm...
- Religião, eu sei! E ele simplesmente foi contra a nossa religião, mãe!
- Não é bem assim, Renatinho...
- É, sim, mãe!
- Mas Deus...
- Deus, mãe? Papai do Céu?
- É, não fala dele quando fala de religião?
- Ai, agora essa...
Ela quase riu, mas simplesmente esperou pela continuação dele.
- Mãe, tô falando da outra religião!
- Que religião?
- Eu vou é embora daqui! Vou morar com a vovó, ela, sim, sabe o que é o certo! E você vem comigo, por via das dúvidas! - e se pôs de pé novamente, voltando a arrumar suas coisas.
- Renato, do que você tá falando?
Ele finalmente expurgou as lágrimas e confessou:
- Sabe, mãe, nunca na minha vida - e realmente pareceu que tivesse mais de sessenta anos então - eu comi um pedaço de carne porque você e o papai me disseram que era errado. Vocês falam que nós somos ve...ve...
- Vegetarianos.
- Eu sei! Nós somos vegetarianos, mamãe! E aquele homem foi contra isso! Ele não é meu pai! Não quero nunca mais saber desse homem! E você tem que fugir! Foge, mamãe, foge! - então percebeu-se que a discussão tinha se transformado em gritos desesperados.
- Renato, por que ele iria me fazer mal?!
- Ele vai te comer, mamãe! Ele vai te comer!

Ps.: prometo que assim que possível, eu o revisarei, foi só pra não perder a idéia...tô com um tiquinho de pressa.
Natália Albertini.

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