Azulejos.

A rasa luz prateada da meia-noite lambia os azulejos da cozinha.
Ela tinha os olhos injetados, vermelhos, os cabelos revirados e os dedos tamborilando a mesa.
Levantou de súbito e abriu a primeira gaveta do balcão de forma violenta e descuidada, fazendo todos os talheres e a própria gaveta caírem ao chão, embaralhados.
Com mãos trêmulas, ela achou a maior e mais afiada das facas.
Com as costas na parede, sem parar pra repensar sobre aquilo, ela levou a lâmina à altura do queixo e, sem conseguir fechar os olhos, rasgou o pescoço da esquerda à direita num movimento brusco só.
Os membros enfraqueceram, o corpo tremeu convulsivamente até cair sentado desconfortavelmente no chão branco, agora tingido com aquele visco rubro-negro.
O luar dava um brilho poético e apetitoso para a cena suicida.

Ps.: dica de música pra acompanhar esse texto: Internal Primates Forever, do Mudvayne.
Ps2.: cansei de brincar de amigdalite, comofäs//
Natália Albertini.

Comentários

Rafa disse…
O mais interessante dos teus textos é que se pode construir toda a cena do que se está lendo. É forte e sensível ao mesmo tempo. A personagem do texto estava angustiada, é um fato, e com todo aquele cenário provocou um suicídio lúdico, quem sabe não fosse a melhor saída, mas certamente uma das mais poéticas.

Até mais! :)

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