613.
O quarto estava pacificamente escuro, as cortinas pesadas cobrindo a vista noturna. As únicas vozes que quebravam o silêncio eram baixas e falavam num outro idioma, vinham da TV, que também emitia uma luminosidade preguiçosa. Os lençóis grossos cobriam desordenadamente as pernas. Ela estava sem a camiseta, com o cabelo lhe cobrindo o sutiã. Os shorts ainda vestidos. Uma cerveja apoiada na cama. Ele só tinha a boxer no corpo e uma lata na mão. Seus olhos iam semicerrados, cansados de tanto ver a estrada pela frente; as costas sem postura, provavelmente reclamando da cama de hotel desconfortável. O sono o alcançava. Ela o admirou por um tempo, encantada mesmo depois de 2.800KM rodados naquela caminhoneta que haviam carinhosamente apelidado de Sophie. - Eu dirijo amanhã - ela sussurrou. Tarde demais, ele já dormia longe dali, nebulosamente sonhando. Ela sorriu e colocou as duas latinhas no criado-mudo de madeira escura, desligando a TV. Beijou-lhe a testa e o ajeitou na cama. Não ...