613.

O quarto estava pacificamente escuro, as cortinas pesadas cobrindo a vista noturna.
As únicas vozes que quebravam o silêncio eram baixas e falavam num outro idioma, vinham da TV, que também emitia uma luminosidade preguiçosa.
Os lençóis grossos cobriam desordenadamente as pernas.
Ela estava sem a camiseta, com o cabelo lhe cobrindo o sutiã. Os shorts ainda vestidos. Uma cerveja apoiada na cama.
Ele só tinha a boxer no corpo e uma lata na mão. Seus olhos iam semicerrados, cansados de tanto ver a estrada pela frente; as costas sem postura, provavelmente reclamando da cama de hotel desconfortável. O sono o alcançava.
Ela o admirou por um tempo, encantada mesmo depois de 2.800KM rodados naquela caminhoneta que haviam carinhosamente apelidado de Sophie.
- Eu dirijo amanhã - ela sussurrou.
Tarde demais, ele já dormia longe dali, nebulosamente sonhando.
Ela sorriu e colocou as duas latinhas no criado-mudo de madeira escura, desligando a TV.
Beijou-lhe a testa e o ajeitou na cama. Não o cobriu, pois sabia que ele arrancaria as cobertas em menos de três minutos.
Deitou de costas para ele, aninhando-se.
Ele reclamou alguma coisa inaudível e enlaçou-a com braços sonolentos.
Ela sorriu.
Lá fora, os caminhões rodando na estrada.
Lá dentro, o sono os arrastando para terras distantes.
 
Natália Albertini.

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