11.

- Pode chorar, eu estou aqui com você - ele sussurrou.
Um par de faróis passou pela rua escura e deserta, iluminando o interior do carro dele.
Ele a tinha em seu colo. Seu cabelo ia revolto, os olhos marejados e o lábio inferior protuberante como uma criança fazendo bico.
Ele encarava suas feições agoniadas e iminentemente chorosas.
- Pode usar minha camisa - ele insistiu - para enxugar as lágrimas.
O pranto expeliu os olhos claros dela, sem maiores cerimônias, incapaz de ser contido.
Ela não conseguia abrir a boca pra sequer explicar que era a pior pessoa do mundo em lidar com sentimentos. Eles eram naturalmente incompatíveis com sua forma física, não cabiam dentro dela. Sua única forma de reação a eles era exeplir água salgada pelos olhos e ficar com a cara inchada.
Chorar.
Chorar e chorar.
Ela era do avesso e sabia. No caso dela, chorar significava algo bom. Temia, contudo, que ele se assustasse com aquilo e não entendesse que as lágrimas por si só revelavam um dos sentimentos mais intensos que já tivera, indizíveis em palavras.
Ele enxugou as pitadas salgadas das bochechas altas dela, ajeitando-a em seu colo, sorrindo de canto. Então ele disse:
- Essa foi a forma mais linda que alguém já usou pra expressar o que sentia por mim. Obrigada.
O pranto subiu à garganta dela numa bola grossa e pesada, afundando seu peito, expelindo ainda mais lágrimas.
Por fim, ela conseguiu expelir as simples palavras, que traduziam parte daquele sentimento caleidoscópico e novo:
- Que ódio de você!

Da sua,
Natália Albertini.

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