Veludo.
Ela corria. As gotículas daquela chuva morna caíam-lhe ao rosto. A capa de veludo verde escuro ondulava às suas costas, o capuz tapava-lhe os olhos a cada passada. Os galhos estalavam a seus pés, as árvores a observavam, serenas e notívagas. A noite pesada preenchia o bosque. Ela sentiu o cheiro do rio gelado mais à frente, correndo como ela. Alargou ainda mais os passos, esquentando o corpo que horas antes tremia de frio. Alcançou, por fim, a margem daquele corpo lânguido e azul. Escuro. Ela agachou, ouvindo os gritos cada vez mais próximos daqueles que a caçavam. Enfiou a mão no bolso direito com rapidez e segurança, sentindo o toque aveludado do tecido denunciando a chave escondida ao fundo. Determinada, deixou a chave escorregar de sua mão, mergulhando no rio gélido e imponente. A chave voltaria para ela, tinha certeza disso, quando mais tarde a procurasse. Para a mão deles, jamais. Pôs-se de pé, de costas para o rio, de frente para os homens que se escondiam a men...