Mordedor.

Ele tinha os cabelos escuros e pesados, um travesseiro para meus dedos.
Os olhos, embora ele não gostasse, docemente esverdeados e fixos na animação que passava na TV. Algo sobre animais de zoológico querendo fugir com o circo.
Ele havia se aninhado em meu colo e sua cabeça repousava ali.
Seu peito subia e descia numa respiração ritmada e tranquila.
Eu o olhava com enorme afeição. Um sentimento que tendia a me transbordar pelos olhos e me apertar a garganta.
Ele virou o rosto e aqueles olhos que me afogavam como um rio faminto me encararam, curiosos como os de um menino.
- Que foi? - é claro que ele estranhou meu encantamento, eu devia ter ficado quase dez minutos encarando sua beleza.
- Ah, nada - respondi.
Ele levantou a mão direita e me apertou o nariz, num gesto de carinho.
Voltou a atenção à TV.
Eu sorri e engoli minhas lágrimas de carinho.
A única pessoa do mundo que expressa amor por meio de lágrimas, e ele escolheu bem a mim.
Meu coração se retorce de felicidade ao pensar nisso.
Termino mais um dia ansiosa pela próxima mordida.

Do seu mordedor,
Natália Albertini.

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