Cafajeste.

Ele se movimentava pela casa naturalmente, enquanto eu ficava ali parada, olhando para aquela vermelhidão por segundos que pareceram eternos.
Não podia não sorrir diante daquilo, era inevitável.
Vi dois pedaços de fita finos e vermelhos pendurados em algo que saía da parede, não importa. Só me importava olhar aqueles cordoezinhos feitos de bibelô.
Uma massa disforme, mas pesada e intransigente me subiu pelo estômago e garganta. Uma massa colorida, de densa felicidade e de uma afeição azul bebê.
Respirei fundo e me esforcei para empurrá-la pra baixo, mas ela insistia. Me fazia abrir ainda mais o sorriso.
Ainda meio sem chão, só consegui emitir algumas palavras:
- Você guardou as fitinhas...
Aquelas que um dia selaram minhas tranças.
Displicente, não prestei muita atenção à resposta dele, mas acho que ele disse que sim, as havia guardado.
Ele agora prostrava-se próximo a mim, e o cheiro dele me enchia o peito.
Baixei os olhos e inspirei profundamente mais uma vez.
Não consegui definir muito bem aquele momento. Foi como uma explosão de felicidade, carinho e frio na barriga.
Asas amarelas e azuis de borboletas alegres demais batiam-se contra minhas paredes gástricas. Um zumbido me enchia a cabeça.
E então, ainda atordoada, quando olhei para ele de novo, pareci ter visto em suas mãos uma forma rubra, massiva, com cavidades, que pulsava satisfeita e quente.

Natália Albertini.

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