O abraço.

 Uma nuvem pairava ao longe. Ela caminhava devagar pelo céu azul.

Até parecia o... É, parecia o chapéu de Lewis. Aquele que ele gostava de usar quando saía pra caminhar pelo parque. Ele dizia que ajudava a se camuflar no meio do bosque, e por isso acabava conseguindo avistar mais pássaros. E como ele amava os pássaros! Desde que eram crianças e fingiam que o jardim da mamãe era uma floresta...

James respirou fundo, demorando a se desvencilhar da nuvem e daquelas memórias, mas quando finalmente desviou o olhar, voltou-se para seus velhos dedos enrugados, as unhas amarelas, pendendo do dispenser de moedas do telefone.

Era uma sensação engraçada estar ali naquela cabine telefônica. A porta fechada atrás de si abafava todo o som da grande avenida, e o deixava observar. Ele então observava.

Segurando o telefone à orelha, ele olhava pelo vidro da cabine. Via muita vida lá fora, e sentia pouca ali dentro. O ar era parado e pesado. Seus pulmões demoravam a se encher, parecia. Havia um cheiro de metal misturado com pó, quase úmido. 

Era engraçado estar ali porque, diferente de quando estava em casa, a solidão estava ali, respirando ao seu ouvido e apoiando o queixo em seu ombro. Ela conseguira se esgueirar com ele pra dentro da cabine e ficava ali, impaciente, esperando ele fazer a chamada.

Em casa, ele conseguia a trancar num quarto às vezes, e passar algumas horas sem a alimentar, vendo TV ou se distraindo com um caça-palavras, enquanto que ali, ela choramingava perto demais, mostrando-o as pessoas na rua, lembrando-o que nenhuma delas parava para prestar atenção nele.

James chacoalhou a cabeça e deu-lhe uma cotovelada. Respirou mais uma vez, tomando coragem, e então enfiou as moedas com força no telefone. Discou os números com pressa e apertou a orelha com força contra o telefone. Ouviu um toque, dois e três. Achou então que a linha havia sido cortada, mas percebeu que só havia apertado o telefone com tanta força que desencaixara o aparelho de surdez. Se endireitou enquanto esperava a chamada.

Nada. Lewis não o atendera. Como sempre.

James tossiu, desligou e coletou as moedas que o telefone cuspira com desdém.

Ele encostou a cabeça no vidro e deixou que a solidão o confortasse com um abraço morno.

Comentários

The Crow disse…
Estava com saudade de ler suas coisas =) Espero que você esteja bem, te cuida.

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