Contra as leis

Sete horas da manhã. Estação cheia. O fluxo de pessoas vai para São Paulo, é notável, não é preciso perguntar individualmente qual seu destino, afinal, as escolas, universidades, maiores concentrações de emprego, comércio e oportunidades estão lá, no centro, na cidade que não pára. Vê-se o trem chegando, preparam-se, bolsas a frente do corpo, posição de quem vai para a luta. Primeiro desafio do dia: Entrar no trem. Em meio a empurrões, manobras com o corpo, xingamentos, desafiam as leis da física e provam que não só dois, mas sim vários corpos ocupam o mesmo lugar. A porta se fecha e um pensamento vem à mente:
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988” lembra-se, “Artigo 1, A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos... parágrafo 5, a dignidade da pessoa humana.”
A dignidade da pessoa humana. Não conseguia encontrá-la em meio ao aperto do trem.
E isso se repete diariamente. Para onde foram os R$2,90 que pagaram para entrar ali? Quem tiver curiosidade, encontrará dificuldades para obter a resposta. As empresas vinculadas à Secretaria de Transportes Metropolitanos como CPTM, Metro e EMTU, não disponibilizam esses dados com facilidade, divulgam balanços e demonstrativos com valores aleatórios e de difícil entendimento, mostra-se quantias destinadas a investimentos, porém, resta saber sobre quais investimentos estão falando já que diariamente é possível constatar a precariedade da estrutura dos trens e diante da necessidade do cotidiano, se torna cômodo, todos se acostumam, não há nada que possam fazer a não ser equilibrar-se em meio a muitos outros corpos para manter-se em pé no trem até chegar a seu destino. Atualmente a CPTM atinge 22 municípios e transporta 2,12 milhões de passageiros por dia. Se não é esta uma questão de suma importância para as prioridades de agenda política, é preciso rever conceitos. Não somente a falta de estrutura é incômoda, mas como também acarreta em uma série de outros problemas causados pelo acúmulo de pessoas e falta de espaço e também a falta de respeito. O Metrô registra até cinco casos de assédio sexual por mês dentro de seus trens, ainda uma estatística falha porque na maioria das vezes, as vítimas não registram queixa formalizada. Eis então a realidade da mulher que sai de casa de manhã para trabalhar ou estudar e é desrespeitada de forma repugnante por não ter outra opção de transporte, e não ter estrutura suficiente para acomodar seres humanos a pelo menos 10 centímetros de distância um do outro. A situação é preocupante, mas parece que só se preocupa com isso é quem utiliza o transporte público, e já que nisso não se inclui nossos governantes, nossos prefeitos ou nossa presidenta, não é de lá que virá a solução. Com o mínimo de esperança o trabalhador, o estudante, aquele que não possui um automóvel, vai torcer para que as obras da Copa do Mundo beneficiem indiretamente os usuários dos trens e metrô mesmo sabendo que o que for feito não será para eles, mas sim, só para inglês ver.


Ps.: Pedi um espaço emprestado no blog e a Natália gentilmente me concedeu. Brigada, Ná!
Rebecca Bonaldi.

Comentários

Anônimo disse…
Quero ver como vai ser a copa do mundo no Brasil, aliás não quero nem estar aqui. Beijos. Adorei a postagem.
http://meuspreciosospes.blogspot.com/
Mah disse…
Olá vim conhecer seu blog e adorei.
Parabéns, e estou seguindo meu blog é novo se poder fazer o msm por mim e seguir o meu tambem!
Beijos
;)

http://marcilene-maciel.blogspot.com/

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