Água quente.

Ando cansada.
Ando extremamente cansada, exausta.
Sim, tenho ido bem.
Sim, respondo a todos com sorrisos extravagantes e exclamações sadias.
O que me cansa é estar sempre tão bem. Ser sempre tão segura e sempre me obrigar a engolir qualquer mágoa que tenha.
Quem fala aqui é a Natália de dentro, a que é empurrada e esmagada internamente todos os dias, cujas lágrimas são reprimidas por repuxadas de bochechas que foram sorrisos falsos. Aquela que todas as noites abre a mente em forma de sonhos nostálgicos e poeirentos. Aquela dona do próprio coração.
Me disseram que depois te um tempo, a dor cessa.
Com todo o respeito a aqueles que me disseram isso, eu sei que tiveram a melhor das intenções, mas vocês erraram. Ela não cessa. Aprendi a lidar com ela, claro, mas ela jamais cessa ou sequer diminui.
Me distraio com algumas coisas durante certo tempo. E, sabe, tenho ficado muito boa nisso. As pessoas me veem como alguém que está sempre de bem com o mundo, com a vida, sempre segura e sempre pronta a ouvir e ajudar os outros. De fato, não nego isso, eu sou, sim, desse jeito. Mas sou também quebrada e ferida.
O vazio que nutro por dentro jamais diminui.
Sinto uma falta absurda de, aos domingos, me sentar à longa mesa de madeira daquela cozinha tão ampla e contar a todos sobre minha semana, o estágio novo e todo o resto.
Ouvi-lo levantar e ir esquentar a água no microondas para ajudar a digestão. Vê-lo se inclinando sobre a cadeira, atrás dos óculos grossos, e me olhar como se eu fosse a coisa mais fascinante do mundo.
Eu morro de medo de esquecer a textura das paredes, o cheiro do granito da varanda e as cores do sofá da sala. De como ele me segurava pela cintura pra guiar meus passos no bolero e de como ele me chamava de "menina". De como ele cantava alto demais a ponto dela pedir pra ele abaixar a voz e de como nós éramos completos aos domingos àquela mesa.
Me pego ouvindo Coldplay e Sigur Rós de novo, aquele oceano se revoltando dentro de mim, rebatendo às minhas paredes entéricas.
Minha cabeça vai a mil e penso em zilhões de coisas pra escrever, mas paro.
Não por obrigação, por vontade, simplesmente paro.
Diferente da dor.
Ah, ela não para.

Natália Albertini.

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