Laranja.

O barulho lânguido da água se acalmando e a luminosidade escassa me envolviam.
Acima da superfície, somente meus olhos. Abaixo, o corpo inteiro imerso naquela massa morna e líquida.
Ao longe, o som dos animais notívagos se escondendo em arbustos.
Observei o topo do manto de água balançar devagar.
Afundei e olhei à direita.
Um enorme e majestoso crocodilo me encarava, preguiçoso.
Seus olhos brilhavam arroxeados, e a cauda jazia estática.
À minha esquerda, mais deles se aproximavam, nadando rápido, assustados.
A massa de água me empurrou inevitavelmente para mais perto de onde o primeiro deles deitava. Ao tentar me esquivar, percebi que ele já havia fugido também.
Com toda a rapidez que se pode ter no ambiente submerso, voltei à esquerda.
Das profundezas daquele canto, a água se deslocava ainda mais rápido e mais forte, me empurrando, e dois pontinhos alaranjados, mais brilhantes que o dos crocodilos, se aproximavam numa velocidade nauseante.
Tomei impulso nos azulejos atrás de mim e dei as maiores braçadas da minha vida, batendo os pés com ferocidade.
Por fim, alcancei a borda oposta.
Subi à superfície e respirei, segura.
Olhei a piscina revirada pelo meu nado apressado se estendendo à minha frente.
Ofegava, mas tinha os pés no chão azul e liso.
De volta à realidade, sorri de canto, me considerando tola.
Peguei impulso para retornar aos exercícios.
E eu, por todos os meus fios de cabelo, juro: a cauda daquele crocodilo me roçou a perna esquerda.

Natália Albertini.

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