R.

Ela era morena. E comprida.
Tão comprida quanto eu, mas se dobrava com muito mais facilidade.
Sentava ali do meu lado, assistindo a aquele filme comigo, como se fosse uma pessoa qualquer. Como se não tivesse saído da minha própria imaginação.
Tinha os cabelos lisos num coque, e os olhos ansiosos detrás de um par de óculos.
Os braços e as pernas eram longos, muito longos. Claro, eu os desenhei assim para que pudessem me resgatar mesmo do mais profundo poço.
Tinha um sorriso largo e rasgado, que não tardava em aparecer para me confortar.
Eu ficava esperando minha irmã - esta, sim, real - a meu lado esquerdo, a qualquer momento me pedir para parar de fantasiar e inventar amigos imaginários, e parar de falar com eles. Mas aquilo seria tão difícil... Porque aquela que eu havia criado parecia tão real.
Ela andava, falava e me compreendia como ninguém.
Bom, talvez pelo fato de que compartilhássemos da mesma mente, mas isso já não vem ao caso.
Meu coração, contudo, era só dela.

Natália Albertini.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Três T's

O Punhal.

Uivos.