Tradução.

Snow Patrol - Run
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André tinha a cabeça recostada no banco, as pernas esticadas e os braços colocados de qualquer jeito. Estava numa posição aparentemente muito desconfortável, estava praticamente jogado. Suas pálpebras encobriam seu Oceano Atlântico, mas ainda encontrava-se acordado. Tudo isso devia-se à espera cansativa do carteiro que, especialmente naquele dia, demorava a chegar.
- Boa tarde, piá!
O garoto sobressaltou-se e se colocou de pé num só pulo. O carteiro desculpou-se, dizendo que não havia percebido que estava a dormir. O rapaz fez questão de dizer-lhe que não era nada, que nem estava dormindo, para dizer a verdade.
Um desconhecido diria que André estava caminhando normalmente, porém, quem o conhecia, poderia dizer que ele estava de certa forma ansioso. O que o denunciava eram os dedos que se moviam incessantemente e as maçãs do rosto que coravam quase que imperceptivelmente.
Atravessou o gramado nem tão extenso, porém bastante verde, e colou as mãos ao portão, logo estendendo a direita, pedindo a carta ao homem.
- Tu tá abatido demais pro meu gosto, André.
O garoto sorriu ligeiramente, agradecido pela preocupação e respondeu:
- Não é nada, Zé. Juro que não é nada. Só estou esperando você por volta de umas três ou quatro horas.
- Ah, ultimamente eu tenho pego cartas demais pra entregar, tu sabe como é. Por isso demoro.
- Não importa, agora você já chegou.
José pegou a carta com dois dedos da mão direita e a entregou a André, que logo puxou o braço de volta, levando a carta ao nariz.
- Valeu, Zé, até semana que vem!
- De nada, piá. Até.
O rapaz entrou em casa, fechou a porta atrás de si e dirigiu-se a seu quarto, logo se trancando lá.
Já tinha o envelope parcialmente aberto, pois não pôde se conter e começou a rasgá-lo ainda no corredor. Terminou de abri-lo e novamente levou a carta ao nariz. Ah, como adorava o cheiro daquela menina. Ela tinha sempre o capricho de borrifar um pouco de seu perfume nos papéis de carta, entretanto, especialmente naquele dia, o odor parecia bem mais fraco, quase que ausente.
Desdobrou o papel e passou a ler o que talvez não gostaria de saber. O que vinha escrito era:
Querido André,
Não sei por onde começar, não sei como ordenar tudo o que tenho a te falar nesta carta. Pode parecer meio clichê, mas acho que exatamente agora, a melhor maneira de começar tudo isso é fazendo uma espécie de retrocesso no tempo.
Lembro-me perfeitamente do dia em que recebi sua primeira carta. Lembro-me perfeitamente de suas palavras, lembro-me do jeito meigo com o qual me disse que minha carta para minha prima havia sido extraviada e quem a havia recebido era você.
Lembro-me que enviávamos cartas um ao outro num período mais ou menos mensal, depois o diminuímos para três semanas, depois para duas e, finalmente, para apenas uma.
Lembro-me de como achávamos que era nosso destino ficarmos juntos, afinal, só o destino para fazer uma carta endereçada a Alto Paraná ir parar justamente na casa de um tal de André que mora em Curitiba!
Lembra de como nos dizíamos apaixonados um pelo outro? De como trocávamos palavras de afeto e tudo o mais?
Bem, Dé, acho que tudo o que posso fazer num momento destes, é escrever-lhe meu sincero agradecimento. Quero agradecer-te por tudo o que me disse, por todo o tempo que gastou comigo.
Quero lhe pedir desculpas pelas últimas semanas, nas quais não tenho sido tão carinhosa quanto você merece. É só que estava prestes a chegar na conclusão que cheguei antes de ontem. Passei as duas últimas noites tentando achar uma maneira sutil para dizer-lhe o seguinte, mas não saí da estaca zero, portanto, aqui vai: quero pedir-lhe desculpas por ter-lhe enganado. Mas acredite, não foi consciente, juro que não foi. Também achei que estivesse perdidamente apaixonada por você, porém entendi que, na verdade, estava apaixonada por suas palavras. Sim, eu sei que agora acabo de cair em contradição, uma vez que sempre te disse que acredito piamente que conhecemos as pessoas apenas por sua maneira de falar. Porém, temos de admitir que não nos conhecemos pessoalmente, não nos conhecemos de maneira completa.
Por último e antes que você rasgue esta carta, o que, provavelmente, deve estar na iminência de fazer, quero lhe dizer que na próxima semana eu estarei de mudança. Estou indo para a Austrália por causa do serviço do meu pai. Soube disso há três semanas, mas não tinha coragem suficiente para contar-lhe.
Não é certo ainda o tempo que passarei lá. Podem ser semanas, meses ou anos. Mas me decidi por terminar tudo por aqui, se é que algum dia realmente começou...
André, meu bem, cessarei minhas palavras, bem como minhas cartas, por aqui.
E antes que eu fale algo a mais ou algo a menos, me despeço para sempre de você.
Se cuida, guri.
Grande beijo,
Bela
.”
O rapaz ergueu a cabeça, inspirou profundamente, redobrou a carta e a enfiou novamente no envelope praticamente dilacerado. Olhou para seu criado-mudo e de lá puxou a foto da garota que ela mesmo havia enviado previamente. Chateou-se parcialmente pelo fato de que a garota realmente achava que nada havia começado entre eles. A decepção só não foi maior, pois ele estava praticamente preparado para isso. Sabia desde o começo que nada sairia como saía nos sonhos dele.
Abriu uma de suas gavetas e enfiou a carta junto da foto ali, juntando-as com todas as outras e quase incontáveis cartas de Isabela.
Fechou a gaveta e decidiu-se por pensar no que fazer depois. Agora sairia e encontraria alguns amigos, se divertiria.
Pararia de pensar na decepção e nas saudades que viriam a seguir. Enfim, pararia de pensar na garota. Ao menos por enquanto.
Deixou a casa e quarenta ou cinqüenta minutos depois, estava na casa da Bruno, jogando baralho e rindo alto, fingindo esquecer o perfume das palavras.

A muitos quilômetros de distância de Curitiba, a sorocabana Isabela revirava seu guarda-roupa, pensando no que doaria e no que levaria consigo. Em meio a calças e blusinhas, achou uma das cartas de André. Levou-a ao peito e a enfiou na fronha do travesseiro. De noite leria novamente e talvez até reconsideraria sua decisão. Agora achava-se bruta demais, mas sabia que uma hora ou outra, as doces e reconfortantes vogais e consoantes do rapaz deixariam de niná-la. Que fosse agora, então, enquanto tinha coragem.

Natália Albertini.

Comentários

Anônimo disse…
vc sabe porque, vc escreveu esse texto, só tenho a chorar.
tenho muito a falar
nao é assim tao facil
Giovanna Tavares disse…
Amor por correspondências?
Belos textos,garotas.Beijos.

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