Enquanto tento escrever algo que de mim não quer sair, sinto meu avô aqui ao meu lado, inclinado sobre mim, tentando ler a tela do computador, me perguntando sobre os sites e como consigo digitar tão rápido. Sorrio de canto e olho, por debaixo de seu corpo, para o corredor, à esquerda. Vejo meus primos e eu, pequenos, correndo e rindo. Em seguida eles passam pela janela deste quarto, à minha direita, fazendo a cortina balançar sutilmente. Memórias desprendidas dos acolchoados da sala, floridos. Dos porta-retratos na estante, da TV ligada, do tapete e da mesa de centro que sempre deixa ser posto sobre si um um vaso de belas orquídeas ou margaridas. Lembranças do espelho de corpo inteiro do corredor, do enorme e branco banheiro com a abertura escura e sombria para o telhado. Recordações dolorosas e coloridas da cozinha que, tão grande, sempre acolhe a família em datas comemorativas, da tesoura escondida atrás da cortina, da geladeira sempre cheia de guloseimas, iogurtes, dos armários, do...