Os lápis.

Eu estava sentada num dos bancos verdes do metrô, relendo um de meus livros favoritos.
Tinha o cabelo bagunçado, como de costume, os fones brancos nos ouvidos e os óculos de sol ao topo da cabeça.
Os cílios iam longos, movendo-se minimamente, lendo com ânsia nostálgica as páginas de um livro que há muito a havia encantado.
Percebi um movimento constante e frenético à minha diagonal direita.
Discretamente, olhei.
Vi um rapaz, que deveria ir lá a seus bons vinte e cinco anos, sentado, com a mochila aos pés. Às mãos, tinha um bloquinho de papel e um lápis de desenho. Sua mão direita ia e vinha em rabiscos de grafite.
Conjurei sobre o que ele poderia estar a desenhar. Assim que subi os olhos aos seus, entretanto, entendi.
Esforcei para não explicitar que eu o olhava e que percebia o que fazia.
Vi, então, que ele me desenhava.
A mim, uma pessoa tão comum, lendo, quieta, lhe havia despertado a imaginação, incitando-o a desenhar.
Voltei a ler e não retornei meus olhos aos seus, mas percebi ainda que os dele iam do papel a mim e vice-versa.
Internamente, sorri.
Eu que me inspiro tanto em estranhos, no metrô inclusive, para acordar escritas, me vi do outro lado da situação. Boa, a propósito.
Resolvi, então, escrever sobre ele, como um agradecimento, retornando-lhe o favor.
Saí do metrô com os lábios recusando-me um sorriso.
Contudo, saí satisfeita.
Voltei a escrever.

Natália Albertini.

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