Madeira.

Ele parou, de joelhos, por cima dela, com o tronco erguido.
O pescoço e os ombros eram como rocha esculpida. Amadeirados.
O peito largo e questionador arfava.
Seu rosto ia limpo, com sentimentos distintos e indefiníveis à mostra.
Naqueles míseros segundos, o quarto silenciou.

A penumbra encobria os móveis, mas havia certa luz argêntea.
As paredes tinham a tinta cinzenta descascada, a cama, os lençóis revirados, e o chão, as roupas.

Ele inspirou profundamente outra vez, olhando aquela criatura debaixo de si, com os cabelos estendidos e a pele em chamas.
Os olhos vermelhos dela não se desgrudavam dele em nenhum momento. Dos seus cílios, do seu maxilar e dos seus braços.
Os sete segundos passados foram o suficiente para ele registrar aquela cena quase notívaga.
E então, ele avançou.

Enquanto ele lhe rasgava o pescoço e o baixo ventre, fazendo jorrar o visco rubro, num completo frenesi, afogando-a com aquele cheiro sobrehumano e hipnótico, a cabeça dela pendia solta para fora da cama, o cabelo encostando no chão.
Ela via a lua cheia de si, sorrindo pra ela, iluminando a sacada aberta, os livros, e toda a cidade. Todos de ponta-cabeça.
E se São Paulo toda olhasse para aquela sacada aberta durante aquelas horas todas, teriam visto o fogo engolindo as paredes.

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