Folhas de hortelã.

Tudo o que via era vinho escuro. As maozinhas seguravam com força aquele pano pesado em volta de seu corpo, deixando á mostra as oscilações que sua barriga fazia, descendo e subindo, puxando e expirando o ar. A cortina era bastante grossa e grande, mas não comprida o suficiente para lhe encobrir os bem lustrados e afivelados sapatinhos brancos de vinil.
A sala de estar tinha móveis aconchegantes e tapetes desenhados. Era um ambiente de cores quentes e escuro, mas bem iluminado por janelas que iam do teto ao chão em puro vidro.
- Que estranho, eu poderia jurar que vi uma pequena garotinha entrar aqui...
Um cheiro suave a familiar de hortelã chegou às pequenas narinas, ainda que por detrás daquele grosso brim cor de vinho, causando um pequeno surtos de risadas abafadas. Aquele odor sempre trazia à pequena criança uma sensação de bem estar e segurança. Mal sabia ela que se lembraria daquilo pelo resto de sua vida.
Á medida que percebia a presença daquela outra grande criança que brincava com ela cada vez mais próxima, Laura apertava mais e mais a cortina em volta de si, prendendo cada vez mais a respiração e as risadas.
Quando estava quase petrificada, uma mão de unhas bem feitas puxou o pano comprido, revelando o esconderijo daquela criaturinha.
Os olhos da mãe se encheram de encanto e brilho ao ver aquele cabelo quase branco todo bagunçado e grudado nas bochechas e testa da menina. O vestido vermelho estava torto, descobrindo-lhe o ombrinho esquerdo. As mãos apertavam a saias e as anáguas. Os pés estavam ambos virados para dentro. E o sorriso banguela no rosto da criança era infinitamente gratificante para aquela jovem mãe que logo tratou de meter as mãos pela pequena cintura de Laura e fazê-la cair ao chão de tanto rir de cócegas.
As duas passaram uma tarde ótima juntas, tomando chá e comendo bolachinhas doces preparadas juntas. A mãe de hortelã mantinha em mente o pensamento de que talvez aquela pequena criatura fosse a mais perfeita tradução de toda a sua felicidade. Já Laura pensava se o chá que tomavam tinha sido feito com fios de cabelo de sua mãe, porque cheirava tanto a hortelã...

Natália Albertini.

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