Sua boca, cercada pela barba por fazer, articulava-se em palavras cheias de sotaque húngaro. Eu, entretanto, não me prendia a isso, mas sim a uma outra parte de seu rosto em particular. Três palavras dentro de mim cresciam exponencialmente. Eu podia senti-las na ponta de meus deds e em minhas orelhas. Podia ouvi-las dilacerando-se em minha nuca, em meus pulsos, em meus tornozelos. Não iria interromper a estória tão interessante que ele relatava, mas ao mesmo tempo eu precisava. Eu tinha de dizer! Eu tinha de fazer talvez a constatação mais pura e natural de toda a minha vida, eu tinha, eu tinha! Ai, meu Deus, não conseguia mais segurá-las! As pestinhas me rasgaram a garganta, pisotearam-me a língua e morsdiscaram meus lábios. Me derrotaram, derramando meu sangue. Constatei, vencida: - Que cílios longos! Ps.: e ele me disse pra escrever isso, pois então cá estou a entregar essa minha constatação ao universo. Natália Albertini.