Quem diria... Você por aqui!

Num dia desses um colega de trabalho me chamou de "Scary Eyes".
Sorri à metade e perguntei o motivo da alcunha.
Rindo-se, explicou a mim e à outra moça que todas as vezes em que eu o olhava, ele sentia meus olhos o transpassarem.
Nós duas fizemos uma expressão que declarava a loucura do rapaz, mas ainda assim ele continuou. Me chamou ainda de "mind reader" e acrescentou que procurava esconder bem seus pensamentos quando perto de mim.
Eles dois deixaram a sala rindo.
Eu permaneci ali, parada, com uma das mãos na mesa, os olhos fixos na parede e um sorriso interno.
Achei graça e, ao mesmo tempo, me percebi. Achei-me, finalmente, em meio a todos esses dias em que me perco com grande facilidade.
Achei-me.
Ainda sou a mesma menina que sente os mesmos sentimentos e expele as mesmas lágrimas ao ouvir a mesma Elephant Gun de sempre.
Achei-me.
Me dei por conta que preciso me conter. As pessoas estão começando a perceber minha percepção aguçada, e isso talvez me seja uma desvantagem.
Talvez não.
Ainda não sei ao certo.
O que importa é que eu me encontrei.
E embora tenha sido um encontro em parte melodramático, sorri.
Amarga e dolorosamente.
Mas sorri.

Natália Albertini.

Comentários

Luria Corrêa disse…
Nossa , muito lindo o texto Natália . Meio em complexidade e drama,não muito visíves .

Beijos .

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