Areia nos dentes.
Me pus de pé. Abaixo de mim, os minúsculos e infinitos grânulos de areia me pontilhando os pés descalços. Acima de mim, a noite negra e mansa, levando agulhadas de estrelas. A única luminosidade era a dos postes lá, bem atrás de mim. Eu, sozinha na praia. Só eu e a noite, silenciosas, compactuando. Eu prometi guardar seu segredo, ela promete guardar o meu. Assim, certa da ausência de testemunhas naquela noite de fronha, deixei os chinelos e a larga camiseta ali, jogados à imensidão bege e macia, afável, compreensiva . Dei sete ou oito sedosos passos. A gélida e plasmática água salgada me toca os tornozelos. Meus ombros descem em agradecimento àquela sutileza que me serve de consolo ao calor pegajoso. Mesmo de costas, sorrio para toda a cidade e as almas que deixo para trás. Enquanto uma melodia suave e de lençol me embala a mente, caminho para dentro da massa abrangente e salgada, sem ondas, carinhosa. Mergulhei sob uma das marolas que vêm me saudar. Meu cabelo escorria pelos ombro...