Verme.

O trem metálico deslizava pelos túneis escuros, silencioso.
Eu tinha a cabeça encostada no vidro, séria.
Um cheiro acre me chamou a atenção.
Farejei algo diferente, com certo nojo.
Não precisei correr os olhos pelo vagão, de cara o vi parado no meio do corredor, fixo.
Devia ter por volta de um metro e meio de altura.
Sua pele era translúcida, seus cabelos, pesados e negros, e os olhos verde-escuro, de pupilas dilatadas.
Tinha manchas vermelhas e arroxeadas na região dos cotovelos e da nuca.
Sua aparência era debilitada, doente, embora o sorriso contido não desgrudasse seus lábios desbotados.
Ele não me olhou diretamente, mas eu sabia que havia me visto e era isso que o fazia sorrir.
Endireitei o corpo e senti meus lábios arquearem-se sobre meus caninos em repulsa, despropositadamente.
Um demônio num corpo de um menino.
They were back in town.
Pensei que precisava avisar Andreas o mais rápido possível, mas isso foi só um vislumbre de pensamento, pois o cheiro daquele verme, súdito do verme-mor, me enojava de forma intensa e viscosa.
As portas se abriram e ele se foi.
Só então senti o arrepio desgrudar-se de minha pele e meus dentes serem cobertos pelos lábios não mais escancarados.
Vermes.
Ainda extermino todos eles.
E guardo os corpos como troféus.
Andreas vai gostar disso... É, ele vai.

Natália Albertini.

Comentários

Dayana Sartorio disse…
Maldosa, sempre!
Posso visualizar seu rosto enojado ao ver esse ser, louca!
Belo texto, as always!

Postagens mais visitadas deste blog

Os Três T's

O Punhal.

Uivos.