Amoreira.

Desviou os olhos da página em branco, fechando, sem ter coragem de lançar um último olhar, o livro que tinhas em mãos: estava acabado.
O que a preenchia agora era aquela sensação antagônica, inexplicável que se sucedia quando se terminava uma obra, qualquer que fosse.
Deitou o amontoado de paginas a seu lado virado para baixo, incapaz de enfiá-lo de uma vez na bolsa, bem como olhar sua capa, o que, com certeza, provocaria irresistível vontade de começar a ler tudo de novo, só pelo prazer de reviver a trama.
Alongou as costas, puxando os braços acima da cabeça, esticando a blusa que momentaneamente descobriu-lhe a cintura. Enquanto se encompridava, suas mãos tocaram algumas folhas do galho mais baixo da árvore em que se recostava.
Tornou a cabeça para cima e dirigiu os olhos ao local de suas mãos, enxergando o que seus dedos não tinham visto: pontinhas pretas arroxeadas despontando do amontoado de verde.
Não pôde impedir que o canto direito de sua boca subisse, formando um sutil sorriso de canto graças à visão agradável.
Abaixou as mãos, limitando-se a simplesmente olhar as pequenas frutinhas por algum tempo, satisfeita na constatação em si. Satisfeita com a própria tese, sem mesmo exigir a prática, o toque.
Depois de alguns instantes, levantou uma das mãos e passou a colher algumas daquelas amoras, depositando-as ao lado do livro, sobre a canga em que estava sentada, estendida na grama.
Ajeitou as costas e as encostou novamente no tronco do pé de amora, desabotoando os primeiros botões da camisa xadrez, feliz com o calor.
O sorriso não desapareceu facilmente, ficou ali, estampado por todo o tempo em que fazia o trajeto das bolinhas, desde o chão até sua boca, sentindo o sabor explodir, percebendo a tinta sujar seus dedos como sangue, mas um sangue sem dor, um sangue de satisfação.
Talvez devesse levar algumas daquelas para o menino que tanto as apreciava. É, talvez devesse... Mas estavam tão boas...tão boas que... Ah, ele que pule alguns portões depois, minhas amoras eu não divido com ninguém! Pelo menos, não hoje.

Ps.: É, meio egoísta, mesmo... Mas elas estavam tãããão gostosas... *-*
Natália Albertini.

Comentários

demek001 disse…
huaehuaehuahahehaue
ótimo texto! e ótimo final! aueuahehuaehuaeauhe
aaaa mas com certeza vou pular alguns portões para pegar baldes de amoras! =P
Maria das Dores disse…
AMORAS....se não fosse eu vc não teria as roxinhas, mais gostosas =P

^^

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