Trabalhava arduamente, mas sem perder a graciosidade e os lábios retorcidos que formavam a caricatura de um sorriso. Cortava aqui e retalhava ali. Amortecia a carne do animal já abatido com as próprias mãos e, por vezes, com um martelo de cozinha. Separou a cabeça num largo vidro cheio de formol sobre uma prateleira, ao lado de outros de conteúdo semelhante. Passou a trabalhar somente no corpo do bicho, tirando-lhe os órgãos com dedicação. Como de costume, cheirou o cadáver de perto, fechando os olhos. Amarelo claro. Enfim começou a drenar-lhe o sangue que ainda relutava em sair, grudado nas veias e artérias, também armazenando-os em recipientes etiquetados. Três ou quatro horas mais tarde, recebeu a prazerosa visita de uma dama mui amiga sua. Conversaram sobre política, jardinagem, saúde e, por fim, durante o jogo de cartas acompanhado de um pedaço de torta, sobre culinária: - Essa torta é mesmo um esplendor - ela disse. - Ora, eu agradeço! Após uma breve pausa, retomaram o que falava...