Jeans underneath my nails.

Escorou-se na parede, com a mochila nas costas, as mãos penduradas nas alças. Esperava o ônibus.
Afundou o queixo no cachecol que lhe envolvia o pescoço, antes da gola rolê; e as mãos, nos bolsos dos jeans.
O vento acariciava-lhe o rosto e dedilhava seus cabelos.
A dor nas costas e as pálpebras pesadas, bem como os cílios entrelaçantes, já faziam parte de seu cotidiano.
Pensava nos afazeres do dia quando decidiu parar.
Parou.
Puxou o freio de mão e rodou a chave.
Amarelo claro.
Sensações puras.
Sentiu o jeans nos extremos de seus dedos, sentiu a lã do cachecol sob sua mandíbula, sentiu o gosto reminiscente de café e pasta de dente que se recusava a largar sua língua e gengivas, uns míseros fios de cabelo chicoteando delicadamente seu nariz.
Deu-se por conta que sua vida jamais fora tão maluca.
E ao mesmo tempo, deu-se por conta que já estava cansada da maluquice, pois já virara rotina.
Fechou os olhos por alguns instantes e mentalmente afixou um post it na parte interna de suas pálpebras, completando a lista de afazeres de 2010: "APRENDER A VIVER ROTINEIRAMENTE, COMO UMA PESSOA NORMAL".
Abriu os olhos, voltou à órbita terrestre, e viu seu ônibus avançando no sinal, sem sequer arriscar esperar por aquela pessoa tão cansada.
Perdeu o ônibus.
Perdeu a hora.
Perdeu a paciência.
Perdeu as reflexões.
Perdeu a sensação táctil tão aguçada.
Perdeu-se.

Ps.: e estou me perdendo tão facilmente esses dias...
Natália Albertini.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Os Três T's

O Punhal.

Uivos.