Uivos.

Ela fica ali, jogada àquele gramado minimamente verde.
Tem nos ouvidos pequenas coisinhas brancas que parecem emitir algum som.
E pensar que antes ela só gostava da minha voz...
Ela se joga ali, com um trecho da cintura de fora, achando que pode me provocar sem ter o troco, ora essa!
Dedilho, então, sua franja, bagunçando-a.
Ela, sem nem sequer destrancar os cílios, arruma os cabelos alaranjados de volta e retorna à inércia.
Irritado, balanço o topo das solitárias árvores que a cerca, fazendo uma ou outra folha cair aqui e ali. Ela nada, deixa os lábios ali, meio-abertos, me tentando a tocá-los. O faço, secando-os, mas ela passa a língua por eles, umedecendo-os novamente.
Passo meus braços, suaves, por seus quadris, arrepiando-a.
Ela, que ontem atirou desesperos e desaforos a mim, como um tapa em meu rosto, sorri de canto e, sem muitos movimentos, faz com que o som daqueles pontinhos brancos aumentem.
Não!
Você deve ouvir A MIM!
SOMENTE A MIM!
Ora, que penso eu?
Me acalmo, a deixo em paz por hoje, pois sei que por mais que eu uive à sua janela ou lhe despenteie os cabelos, ela nunca me verá.

Natália Albertini.

Comentários

Unknown disse…
E se nos concedem o foco de um microscópio, que surpresa não terão ao descortinar universos por tras de nossos detalhes.
Anônimo disse…
...tem bons escritos aqui... onde posso ler mais?

Marcel Luper
Editor

THEBOOKSONTHETABLE
www.thebooksonthetable.com.br

Postagens mais visitadas deste blog

Os Três T's

O Punhal.