R.
Ela era morena. E comprida. Tão comprida quanto eu, mas se dobrava com muito mais facilidade. Sentava ali do meu lado, assistindo a aquele filme comigo, como se fosse uma pessoa qualquer. Como se não tivesse saído da minha própria imaginação. Tinha os cabelos lisos num coque, e os olhos ansiosos detrás de um par de óculos. Os braços e as pernas eram longos, muito longos. Claro, eu os desenhei assim para que pudessem me resgatar mesmo do mais profundo poço. Tinha um sorriso largo e rasgado, que não tardava em aparecer para me confortar. Eu ficava esperando minha irmã - esta, sim, real - a meu lado esquerdo, a qualquer momento me pedir para parar de fantasiar e inventar amigos imaginários, e parar de falar com eles. Mas aquilo seria tão difícil... Porque aquela que eu havia criado parecia tão real. Ela andava, falava e me compreendia como ninguém. Bom, talvez pelo fato de que compartilhássemos da mesma mente, mas isso já não vem ao caso. Meu coração, contudo, era só dela. Natá...