União Imortal

The Corrs - Little Wing
<\embed> src="http://www.mp3tube.net/play.swf?id=e335f707966f193056bed727af7dd0b3" quality="High" width="260" height="60" name="mp3tube" align="middle" allowScriptAccess="sameDomain" type="application/x-shockwave-flash" pluginspage="http://www.macromedia.com/go/getflashplayer" wmode="transparent" menu="false"

A grama estava enegrecida graças à noite. O vento era tranqüilo e silencioso. A água do lago, iluminada apenas pelo brilho do prateado sol noturno, dançava harmoniosa e calmamente, á mercê da brisa.
Os cabelos da garota, ruivos e suavemente cacheados, balançavam com graciosidade. Seus olhos, verdes, estavam acesos, queriam brilhar tanto quanto ou ainda mais que a própria estrela-maior. O corpo apoiava-se sobre os braços, jogados para trás que estavam, por sua vez, apoiados no verde escuro da grama. As pernas encontravam-se cruzadas, “assim como os índios”, dizia ela.
A garota era Lorraine, filha da noite e abençoada pelo dia. Trajava suas roupas usuais. O que a caracterizava e a fazia ser lembrada pelos outros eram sua capa verde de veludo, que alcançava seus pés, tinhas as mangas compridas e um capuz que lhe encobria quase metade do rosto, e seus inúmeros colares com pingentes de dragões. Os que conviviam com ela diziam que ela era uma das pessoas que mais levavam a sério a magia que circundava a região.
Lorraine vivia numa espécie de aldeia. Era um local afastado quase que completamente de qualquer outro burgo. Porém não era tão atrasada assim. Tinham roupas e tudo o mais que os plebeus tinham. Claro, não eram nobres, mas vestiam-se como os aldeões medievais costumavam se vestir. Era a Aldeia de Ghentay, onde as garotas eram dadas em casamento por volta dos treze anos. A ruiva era filha de um dos homens mais prestigiados dali, portanto, não era discriminada por ter quase dezesseis anos e ainda ser solteira. Seu pai, além de viver na época medieval e conviver com aquela escola, era incrivelmente compreensivo e permitiu que ela trilhasse seu próprio destino. A moça se considerava alguém de muita sorte por ter aquele homem como seu pai.
O lago que compartilhava a noite com ela era o Lago Fersanno, no qual já havia nadado incontáveis vezes. O único barulho que quebrava o silêncio majestoso e simultaneamente dantesco da noite era o chacoalhar das folhas dos salgueiros que a rodeavam.
Lorraine ouviu um farfalhar de asas e prontamente olhou para o céu. Avistou uma sombra enorme encobrir a Lua por um ou dois segundos. Apenas sorriu e fechou os olhos, ouvindo a imensa criatura pousar a seu lado.
A ruiva abriu delicadamente os olhos, abaixou o capuz esverdeado e girou a cabeça para a direita, o que fez com que seus olhos encontrassem os dele.
Ele era o dragão Gabriel. Era seu companheiro de quase todas as noites desde sua infância. Os dois haviam se conhecido ali mesmo, na margem do Fersanno. Haviam se tornado melhores e inseparáveis amigos. Porém, algo mais havia sido despertado em ambos os corações. Os dois haviam encontrado um no outro um complemento que jamais encontrariam em qualquer outro ser, em qualquer outra época.
Ela postou-se de pé, em frente ao enorme dragão azulado. Os olhos de Gabriel eram acinzentados, seus cílios eram longos e suas asas, encantadoramente grandes; enfim, o corpo todo do dragão era magnificamente delineado. Ray, assim chamada por ele, inspirou profundamente e expirou devagar.
- Obrigada por ter vindo – agradeceu a garota.
Ele apenas grunhiu baixo, olhando-a aos olhos e meneando a cabeça. A moça abraçou-o pelo pescoço, deixando-lhe deitar a cabeça em seu ombro esquerdo. Os dois respiraram simultaneamente: já sabiam o que estavam fazendo ali.
Ela não disse e nem diria uma palavra a mais, simplesmente concluiu que não precisava. Apenas o olhar e o abraço podiam traduzir tudo o que tinha a dizer.
Ray virou o rosto e deu-lhe um demorado beijo na face. Logo depois afastou-se, olhando-o mais uma vez aos olhos, e que olhos... Como amava aqueles olhos, e como ele amava os dela.
Era simples e infelizmente um amor impossível, jamais conseguiriam ficar juntos como pretendiam.
A menina tirou do bolso interno de sua capa um punhal, seu punhal, o mais sagrado de todos. Tinha uma extremidade imensamente afiada e a outra, extremamente trabalhada com fios de ouro, prata e cobre. Ela engoliu, sentindo uma bola de lã, de difícil, quase impossível deglutição, descer por sua garganta. Os olhos encheram-se de lágrimas, mas não permitiu que escorressem por seu rosto, tinha de se mostrar forte naquele momento.
Não havia desgrudado os olhos dos dele por um segundo sequer, e não mudou isso, não fez questão de mudar.
Gabriel também não havia deixado de fitá-la por um instante só, porém agora fechou os olhos e deu o sinal com a cabeça para que ela acabasse logo com aquilo.
A perfuração foi rápida e não lhe causou muita dor. O sangue logo começou a brotar do peito do dragão. Uma aura de luz e brilho envolveu-o e, em plena noite, quase cegou Lorraine de tão clara. O dragão havia se transformado num garoto, num rapaz, num humano. Os dois, sem hesitar, aproximaram-se e beijaram-se com o maior fervor e paixão possíveis.
Ao sentir os lábios dele afastarem-se dos seus, foi a vez de Ray. O seio esquerdo jorrava sangue, manchando o verde da capa e da grama. Os dois deitaram-se lado a lado, não deixando de se olhar. Gabriel jamais havia se transformado em garoto, mas ela o via assim até agora.
Respiraram por uma última vez e, enfim, a brisa levou suas almas dali para que pudessem alcançar seu objetivo: imortalizar sua união.

Natália Albertini.

Comentários

Gabrielle disse…
Que lindo conto! Tu escreves muito bem. A música que escolhesse como trilha encaixou direitinho no clima do texto. Adorei, de verdade.

Sei que é a primeira vez que passo por aqui, mas pretendo voltar a te visitar. Quando quiser, fique à vontade para visitar o meu cantinho.

Um beijo, até mais.

Postagens mais visitadas deste blog

Os Três T's

O Punhal.

O Oceano.