Cochilo de camarão.
O astro-rei se pondo, tingindo o céu de salmão alaranjado. As luzinhas voadoras se acendendo, naquele esplendor entômico. A varanda cheia de folhinhas trazidas pela brisa. As lâmpadas ainda apagadas. As redes balançando suavemente com o vento. O colchão jogado de qualquer forma num dos cantos, próximo a uma das redes, perto da porta da casa. E em cima dele, sobre uma canga colorida, um ser humano. O corpo à mostra, vestindo um simples biquíni vermelho, liso, ainda úmido. Os cabelos numa trança improvisada. As pernas cruzadas, as costas viradas para cima. A cabeça sobre os braços dobrados. Um sutil movimento representava sua respiração. As pálpebras, imóveis, projetavam as sereias e os elefantes oníricos. A mente completamente não sintonizada na garoa que começava a cair, molhando a grama. Aquele véu de sono, se tornando quase que ciente do cheiro de camarão vindo da cozinha. Natália Albertini.